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Selo de qualidade

O acordo concluído pelo Brasil com os Estados Unidos para a exportação de carne bovina in natura cria a possibilidade de exportações adicionais do Brasil de até US$ 900 milhões por ano

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Por Redação
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O acordo concluído pelo Brasil com os Estados Unidos para a exportação de carne bovina in natura cria a possibilidade de exportações adicionais do Brasil de até US$ 900 milhões por ano – de acordo com estimativas oficiais, que alguns produtores consideram otimistas –, mas seu impacto poderá ser bem mais amplo. Além do acesso ao mercado americano, o acordo – cujas negociações foram concluídas na semana passada, 17 anos depois de iniciadas – poderá facilitar a venda do produto brasileiro para grandes países importadores que ainda impõem restrições à sua entrada.

Responsável por quase 20% de toda a carne bovina consumida no mundo, o que o torna o maior do planeta, o mercado americano é de difícil acesso, pois as autoridades sanitárias dos Estados Unidos impõem exigências rigorosas para a entrada de produtos importados. Dessa forma, os países que conseguem fornecer para os Estados Unidos obtêm o equivalente a um selo de qualidade para seus produtos, o que tende a facilitar sua exportação para outros mercados.

No caso da carne brasileira, esse selo poderá abrir caminho para a venda do produto in natura para o México e o Canadá – que, com os EUA, compõem o Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) – e também para o Japão e a Coreia do Sul. Os três últimos países estão entre os dez maiores importadores de carne bovina do mundo, mas não integram a lista dos principais destinos da carne bovina de origem brasileira.

O Brasil solicitou a abertura do mercado americano de carne bovina in natura em 1999, no início do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Desde aquela época, os governos dos dois países vinham trocando informações a respeito do controle da saúde animal no Brasil. No ano passado, o governo americano autorizou a entrada da carne procedente de alguns Estados brasileiros, mas o acordo definitivo só foi concluído com a viagem a Washington do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, há alguns dias. Na ocasião, as autoridades dos dois países concordaram com os termos da carta de reconhecimento da equivalência sanitária e os acordos sanitários.

“Agora podemos dizer que nosso status sanitário é compatível com o dos EUA. É uma estrada que se abre para nós”, disse Maggi, em solenidade no Palácio do Planalto, com a presença do presidente em exercício Michel Temer, para celebrar a conclusão dos entendimentos entre os dois países.

Embora não seja o maior produtor mundial – a liderança é ocupada pelos Estados Unidos –, o Brasil é o maior exportador de carne bovina do planeta. No primeiro semestre, as vendas externas totalizaram US$ 2,8 bilhões, resultado do embarque de mais de 736 mil toneladas do produto. O aumento em relação às vendas do primeiro semestre do ano passado foi de 1,3% em valor e de 12% em volume.

O principal destino do produto brasileiro tem sido Hong Kong, porta de entrada para o mercado chinês. As exportações diretas para a China colocam o gigante da Ásia como o segundo principal destino da carne bovina brasileira. Em seguida vêm União Europeia, Egito, Rússia, Irã, Chile, Estados Unidos, Venezuela e Arábia Saudita.

Ao longo dos governos do PT, a Rússia mereceu tratamento especial das autoridades brasileiras. O governo de Moscou impôs exigências fitossanitárias específicas para a compra da carne brasileira, sendo atendido na maior parte dos casos. Mas, como o segundo maior importador de carne do mundo, a Rússia não deu ao Brasil tratamento compatível com o que recebeu das autoridades brasileiras.

Já os Estados Unidos voltaram a ficar entre os dez principais destinos das exportações brasileiras porque suas importações (de 14 mil toneladas de janeiro a junho deste ano) aumentaram 39% em valor. É uma amostra dos ganhos adicionais que o acordo recém-concluído poderá trazer para os produtores brasileiros. Haverá, obviamente, a contrapartida das exportações de carne americana para o Brasil.