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Sem confiança para investir

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Por Redação
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Depois de mais um ano muito ruim, os empresários da indústria vão entrar em 2015 em marcha muito lenta, com pouca disposição para investir em máquinas e equipamentos e sem ânimo para contratar ou mesmo para manter o quadro de pessoal. Também nos serviços, no comércio e na construção o investimento deve continuar baixo, segundo a nova sondagem trimestral da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Mas a prolongada crise na atividade industrial é especialmente grave pela importância estratégica do setor. As fábricas ainda serão por muito tempo um dos polos principais de inovação tecnológica, de criação de bons empregos e de dinamismo para a maior parte dos demais setores. É impossível explicar o baixo crescimento econômico do Brasil, nos últimos quatro anos, sem levar em conta, como fator preponderante, a estagnação industrial. A sondagem de investimentos divulgada pela FGV na terça-feira passada mostra um ambiente marcado por muita insegurança. O baixo grau de confiança dos empresários ainda reflete, sem dúvida, a experiência ruim dos últimos anos, especialmente de 2014, mas evidencia também uma elevada incerteza em relação ao futuro próximo. O balanço de investimentos de 2014 foi pior que o do ano anterior nos quatro segmentos cobertos pela pesquisa. Aumentos foram indicados por 38% das indústrias de transformação, 36% das empresas de serviços, 42% das firmas comerciais e 26% das construtoras. No ano anterior, os números haviam sido 40%, 41%, 49% e 33%. No caso da indústria, a disposição para investir diminuiu de forma contínua ao longo de quatro anos. Em 2011, início do governo da presidente Dilma Rousseff, 54% das indústrias consultadas indicaram expansão do investimento. Nos anos seguintes essa proporção diminuiu para 43%, 40% e, finalmente, 38%. Nesse período, quase dobrou - de 20% para 38% - a parcela de empresas com redução do valor investido. Esses números confirmam claramente o fracasso da estratégia de crescimento, especialmente da política industrial, seguida pelo governo. As linhas principais da estratégia haviam sido concebidas na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Procurou-se estimular o consumo por meio da elevação dos salários, da expansão do crédito e da transferência de recursos fiscais para grupos de baixa renda. Ao mesmo tempo, o governo ampliou o funcionalismo, expandiu seus gastos e afrouxou a administração das contas federais. Para estimular o crescimento econômico e o desenvolvimento industrial, criou incentivos fiscais para setores selecionados e destinou grandes financiamentos a grupos escolhidos para serem campeões em seus setores. Tudo isso se completou com medidas protecionistas e políticas de conteúdo nacional. Sem surpresa, a combinação desses lances produziu enorme desperdício, descompasso entre a demanda de consumo e a oferta de bens, piora da situação fiscal, inflação sempre longe da meta de 4,5%, erosão do saldo comercial e desequilíbrio crescente das contas externas. O investimento industrial ficou muito abaixo do necessário para expandir e modernizar a capacidade produtiva. A insegurança permanece. No fim do ano passado, 47% das indústrias tinham planos de expansão do investimento em 2014. Na sondagem recém-divulgada e relativa a 2015, essa parcela diminuiu para 41%. Em serviços, a proporção de empresas com planos de maior investimento no ano seguinte passou de 48% para 45%. No comércio, de 63% para 52%. Na construção, de 45% para 34%. Se a nova equipe econômica implantar em 2015 a prometida política de ajuste, incentivos fiscais deverão ser cortados. Além disso, pode-se esperar uma nova política no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com menor apoio do Tesouro. A promessa de ajustes indica um início de governo com baixo crescimento. As condições serão, aparentemente, desfavoráveis a uma retomada do investimento, exceto, talvez, por um detalhe. Se o governo conquistar credibilidade os empresários serão estimulados a apostar no País. Falta a presidente mostrar juízo, competência e coragem para esse jogo.