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Sem força para crescer

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Por Redação
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O tombo do primeiro semestre será seguido por mais um desastre no segundo e o Brasil chegará ao fim do ano com um crescimento econômico de 0,52%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central (BC). Poucos países, com a evidente exceção de Venezuela e Argentina, modelos para as autoridades de Brasília, tiveram um desempenho tão ruim quanto o brasileiro nos primeiros seis meses de 2014, embora a presidente Dilma Rousseff insista em dizer o contrário. Na semana anterior, a pesquisa do BC ainda havia apontado uma projeção de 0,70%. Na última sexta-feira, os economistas do mercado cortaram sua estimativa pela 14.ª vez consecutiva. A nota especial, desta vez, foi a coincidência: no mesmo dia, às 9 horas, havia saído a notícia oficial da recessão técnica, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Produto Interno Bruto (PIB) havia diminuído mais 0,6%, depois de ter encolhido 0,2% nos primeiros três meses, e havia ficado em 0,9% do contabilizado entre abril e maio de 2013.Os economistas consultados na pesquisa Focus mexeram também na projeção do próximo ano e reduziram de 1,2% para 1,1% o crescimento esperado para 2015. Segundo eles, a fraqueza econômica do Brasil está longe, portanto, de ser passageira. Também entre economistas de fora essa é uma percepção cada vez mais comum. Instituições multilaterais têm projetado baixo crescimento para o Brasil neste ano e no próximo, mesmo com uma recuperação mais firme da economia global. Nos últimos anos, segundo o diagnóstico apontado por um número crescente de analistas, o País perdeu capacidade de expansão econômica. O Brasil tem hoje potencial para crescer entre 1% e 1,5%, segundo o economista Mario Mesquita, ex-diretor de Política Econômica do BC e hoje sócio do Banco Brasil Plural. Essa avaliação foi citada pelo jornal Valor.Até recentemente, as avaliações do potencial de crescimento estavam na faixa de 2% a 3%. Esse é um cálculo especialmente difícil e impreciso, reconhecem os economistas, mas é possível apontar com razoável segurança a tendência de aumento ou de redução do potencial. No caso do Brasil, quatro anos de baixo crescimento, de investimento nanico e de evidente piora das contas externas e do balanço de pagamentos indicam de forma inequívoca a perda de musculatura da economia, especialmente no setor industrial.A nova queda do investimento apontada pelas contas nacionais confirma claramente a redução da capacidade de crescer. Sem maior aplicação de recursos na formação de capital fixo - máquinas, instalações fabris, infraestrutura, etc. -, qualquer novo esforço de expansão dos negócios levará, em pouco tempo, a mais inflação e mais desequilíbrio externo.O governo se recusa, no entanto, a reconhecer a perda de potencial de crescimento e continua prometendo melhor desempenho neste semestre. Mas um resultado pouco melhor em um semestre pouco significará, porque faltarão condições para uma recuperação sustentada.Em sua permanente recusa de admitir os fatos, a presidente Dilma Rousseff continua atribuindo o mau desempenho do Brasil às condições internacionais. Segundo ela, só China, Estados Unidos e Reino Unido se saíram bem no segundo trimestre. Nos demais países, acrescentou, houve uma "redução dramática do crescimento".Com ou sem piora, outros países tiveram desempenho muito melhor que o do Brasil. No segundo trimestre o PIB chileno foi 1,9% maior que o de um ano antes. No Peru, o resultado foi 1,7% superior ao de abril a junho de 2013. No caso da Colômbia, o último número disponível é o do primeiro trimestre, quando a produção superou por 6,4% a de igual período do ano anterior. Nos Estados Unidos, a diferença entre o valor produzido no segundo trimestre deste ano e o verificado um ano antes ficou em 2,5%. Alemanha, Rússia e França também exibiram diferenças positivas. O desastre brasileiro - PIB trimestral 0,9% inferior ao de um ano antes - é, em parte, explicável também por essa insistência em rejeitar a realidade.