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Por Redação
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A Polícia Federal (PF) prendeu o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) do Maranhão, Antônio César Carneiro de Souza, e mais 22 servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da secretaria do Meio Ambiente do Estado. Segundo a Polícia Federal, que investiga o crime, Souza é suspeito de chefiar um grupo de servidores públicos da área ambiental maranhense que arrecadava cerca de R$ 2,5 milhões por mês em propinas pagas por madeireiras ilegais que cortam clandestinamente madeira nas reservas indígenas do Alto Turiaçu, Awá-Guajá e Caru, onde há aldeias isoladas.Comparado com o esquema investigado pela Operação Lava Jato, o propinoduto do Maranhão resulta em algo que pode ser comparado com troco para esmola. Só o ex-gerente da Petrobrás Pedro Barusco já confessou às autoridades que está disposto a devolver quase US$ 100 milhões (R$ 260 milhões) do produto das propinas que recebia como assessor do ex-diretor da petroleira Renato Duque. Mas este caso chama a atenção por dar uma ideia de como, infelizmente, o impacto provocado pela condenação de altos dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) e do primeiro escalão do primeiro governo Lula não parece ter desestimulado nem o aparelhamento da máquina pública pelo partido no poder federal nem o apetite pantagruélico de malfeitores que assumem postos na administração do Estado, seja em que setor for, seja qual for o tipo de serviço por eles prestado.O caso do Maranhão não é comparável com o petrolão. Mas exibe as mazelas da falta de compostura e de limites morais de militantes do partido que reelegeu a presidente da República que, na campanha, apontava o combate à corrupção como tema prioritário de gestão.A roubalheira na Petrobrás expôs a desfaçatez com que ferrenhos defensores da manutenção da maior empresa brasileira sob controle estatal dilapidaram o seu patrimônio. O propinoduto do Incra no Maranhão joga no lixo um dos discursos mais corretamente políticos do ideário petista. Souza, o agora ex-superintendente do Incra preso, foi indicado pelo PT em 8 de outubro, depois do primeiro turno das eleições, e cobrava propina para fazer vista grossa para dois pecados mortais para a militância: a devastação da natureza e a agressão aos índios.Segundo o delegado Felipe Soares Cardoso, responsável pela Operação Ferro e Fogo, os 23 servidores presos cobravam de R$ 8 mil a R$ 12 mil para autorizar o corte de madeira em áreas indígenas e fraudar notas para "esquentar" a madeira extraída ilegalmente. Souza, o chefe do esquema, é funcionário estadual e foi nomeado subsecretário da Secretaria do Meio Ambiente pela governadora Roseana Sarney. Depois de preso, ele foi exonerado pelo Incra, que tentou se eximir de responsabilidade por sua ação delituosa. Em nota oficial, "o Incra reitera que a nomeação do servidor, que pertence aos quadros do governo do MA e foi cedido ao governo federal, seguiu os trâmites legais para esse tipo de função comissionada, e nada foi apontado que desabonasse a conduta do servidor e sua consequente condução ao cargo". Funcionários do Incra também são acusados de ajudar um grupo de fazendeiros e empresários que, mediante ameaças físicas contra assentados, compravam áreas destinadas à reforma agrária no Mato Grosso por um valor inferior ao do mercado. Na Operação Terra Prometida, que calcula os prejuízos públicos causados pelo esquema em R$ 1 bilhão, a PF prendeu 40 suspeitos, entre os quais Odair e Milton Geller, irmãos do ministro da Agricultura, Neri Geller, do PMDB. O próprio ministro foi citado por testemunhas ouvidas pelos federais, mas só será investigado se o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar, pois goza de foro privilegiado.Não há, pois, limites politicamente corretos para a corrupção, que dilapida recursos públicos sem poupar nada: meio ambiente, índios ou trabalhadores sem-terra contemplados com lotes da reforma agrária.