
, O Estado de S.Paulo
09 Dezembro 2010 | 00h00
Esta continua longe do mínimo satisfatório, assim como os índices de evasão escolar e o porcentual de estudantes em séries aquém de sua idade. É verdade que os números já foram piores, mas isso não pode servir de consolo. Sem querer negar os progressos alcançados, o patamar em que se encontra o ensino brasileiro é uma chaga social e um freio ao desenvolvimento nacional na era da informação. Nesses dois sentidos essenciais - a educação de qualidade como direito da população e imperativo para uma economia impulsionada pela inovação tecnológica - a metáfora do copo meio cheio e meio vazio não se aplica. A metade vazia é "mais igual" do que a metade cheia.
Tomem-se os resultados de 2009 do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), iniciado em 2000 e repetido a cada triênio. Os exames, de que participam os 34 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e 31 nações convidadas, medem a aptidão dos estudantes de 15 anos na sétima série em leitura, matemática e ciência, cada vez com ênfase numa dessas áreas. Da última versão do teste, participaram 20 mil brasileiros. Numa escala de 0 a 1.000, tiveram em média 412 pontos no quesito leitura, 386 em matemática e 405 em ciência. Ou, respectivamente, 4,8%, 4,3% e 3,8% acima das marcas de 2006.
A contar de 2000, apenas dois países (o minúsculo Luxemburgo e o vizinho Chile) avançaram mais do que o Brasil. O relatório da OCDE considerou "impressionante" a evolução do País, agora o 53.º no ranking de leitura e ciência, e o 57.º dos 65 participantes em matemática. Nada a comemorar, sobretudo quando se vê que praticamente a metade dos alunos brasileiros tirou as notas mais baixas em leitura, pouco mais da metade ficou nos mesmos patamares em ciência, assim como perto de 70% na prova de matemática. Apenas 2 em cada 100 tiveram "alto desempenho", na classificação do Pisa, em qualquer das áreas avaliadas. A China (mais especificamente Xangai) lidera nas três modalidades. Os números exprimem uma situação alarmante.
O típico estudante brasileiro naquele grupo de idade sabe ler, mas não entende o que lê - as ideias implícitas nos textos lhes escapam. O padrão se repete em ciência: a maioria entende o óbvio, mas é incapaz de lidar com os conceitos básicos. Em matemática, apenas os problemas mais simples são resolvidos. O baixíssimo nível, adverte a OCDE, representa uma barreira insuperável à aprendizagem em anos futuros. É, por sinal, o que mostra a experiência empírica: as nossas faculdades estão cheias de pessoas com sérios problemas de expressão e compreensão; as profissões também.
As deficiências vêm do berço, por assim dizer. As crianças brasileiras começam a estudar mais tarde (aos 7,4 anos em média) do que as chilenas ou peruanas, por exemplo, para ficar na América Latina. E o número de horas por semana dedicadas ao estudo é também inferior. Além disso, 40% dos alunos repetem pelo menos um ano durante a sua vida escolar. Na relação da OCDE, o Brasil só ganha da Tunísia e de Macau nesse quesito. Mas o maior problema singular do sistema educacional brasileiro é a capacitação insuficiente dos professores, reflexo direto de seus baixos salários e da erosão continuada do seu prestígio social.
Nesse particular, o relatório da OCDE contém duas perguntas embaraçosas para o Brasil: "Como são pagos os professores em comparação com outros trabalhadores de alto nível?" e "Você gostaria que o seu filho fosse professor?"
Encontrou algum erro? Entre em contato