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Opinião|Só a rua salva o Brasil

Atualização:

Prender a polícia, a velha obsessão! Depois da proposta de “restabelecimento imediato” do programa econômico do PT para nos salvar... dos efeitos da persistência insana no programa econômico do PT, tirar José Eduardo Cardozo do Ministério da Justiça e entregar a pasta à “guarda baiana” do lulismo, sob um lugar-tenente de Jaques Wagner, o lugar-tenente de Lula, com a missão oficialmente definida de rachar o Ministério Público (o de São Paulo já se acovardou) e “enquadrar a Polícia Federal” é a prestação da vez do golpe aos pedacinhos do PT, com epicentro sempre no Judiciário, diante do que não dá mais para negar, nem a respeito da multinacional baiana de empreitadas presidenciais bilionárias, nem do que esse esquema rendeu na forma de “dachas” e outros mimos para o seu criador e digníssima família.

O flagrante de contato de mucosas entre as offshores panamenhas das famílias Santana e Odebrecht intermediado por um notório operador de subornos do “petrolão” conforme instruções precisas escritas de próprio punho pela sorridente senhora Santana, com pagamentos da Odebrecht para o marqueteiro de Dilma durante a campanha de Dilma, pôs munição viva na roleta-russa do “caixa-2-pau-pra-toda-obra” que vem sendo jogada pelo PT e desenhou com minúcias chocantes os contornos da “Internacional Bolivarianista” que instalou uma rede de ajuda mútua de presidentes eleitos de extensa ficha policial em países diversos da África e da América Latina com o concurso de campanhas roteirizadas pelo marqueteiro de Lula e “Conselheiro n.º 1 de Dilma Presidenta” pagas com “obras” bilionárias para a Odebrecht, bancadas algumas pelo BNDES, tudo isso dando vida à receita que ele tantas vezes festejou no Foro de São Paulo.

Com o País atolado na sua assumida incapacidade de formular mais que o ataque ao poder e de construir o que quer que vá além dos meios de mantê-lo, a nova coleção de provas configura o universo real do petismo no governo à imagem e semelhança do sindicalismo pelego getulista onde finca raízes e no qual, uma vez tomada uma corporação numa determinada praça, tudo que há a fazer é não perder mais as “reeleições” por aclamação de eleitores expostos às pressões, violências, chantagens e reformulações da regra que garantem a quem se dispuser a praticá-las sem nenhum limite manter para sempre o livre dispor do imposto sindical correspondente.

“Governar é locupletar-se dos meios de ganhar a próxima eleição” é a única lição que se aprende nessa escola. Faz todo o sentido, portanto, que os governos do PT desdenhem completamente dos profissionais do fazer, mas erijam em eminências pardas todo-poderosas os assessores do dizer com notória especialização em revestir superfícies podres de purpurina dourada, não importa em que latitude, não importa em que idioma.

As provas acumuladas contra os Silva, os Santana e os Odebrecht às vésperas de um momento de catarse como o do 36.º aniversário do partido parecem ter precipitado manifestações descoordenadas dos setores mais “soft” e mais “hardcore” do golpismo genético no PT, o que explica o anúncio em sequência do “divórcio de Dilma” (sem separação de corpos) e início oficial da construção da grande mentira de 2018 embutido na “reafirmação” preventiva como efeito de um “programa econômico” que é a causa da desgraça profunda que o Brasil vai viver nos próximos três anos e mais, seguido da rasteira em José Eduardo Cardozo, uma vez refeito o partido do susto, para pôr em curso mais um dos “arranjos” judiciais no figurino do Foro de São Paulo para os quais o PT se vem articulando desde o primeiro dia dos seus quatro governos, e se faz necessário nesta emergência para manter Lula vivo até o momento de protagonizá-la.

Não se impressione com a falta de sentido real das “propostas” do partido, é isso que dá sentido prático a esse angu dialético. Ao reagir a todo e qualquer fato novo com bofetadas na cara da lógica e do senso comum, o PT tem conseguido fazer com que cada bofetada nova pareça menos chocante que a anterior, o que vai dessensibilizando o ouvinte até que agredir a lógica se torna a regra e, portanto, a lógica, e não a exceção, que é aquilo que, por inusitado, aciona nossos alarmes cognitivos. É com esse expediente que ele se tem dedicado, ultimamente, à empreitada de transmutar o castigo em crime e fazer da adesão ao impeachment sem o qual não sobrevive o Brasil uma espécie de “confissão de culpa” da intenção oculta não de prender os criminosos, mas de deixar vagos os seus postos na organização criminosa.

A “DR” pública do 36.º aniversário do partido confirmou o que já se sabe desde o início da prova de apneia que já vai muito além do limite do dano irreversível imposta à economia brasileira desde a subida de Joaquim Levy ao palco: Dilma Rousseff não tem o mesmo estômago de Lula para recomendar com ar piedoso aos miseráveis que estrebucham em seus braços que tomem mais uns bons goles de veneno para se curar, mas também não tem grandeza bastante para sair da frente e deixar o País vir respirar na superfície. Ego por ego, os dois se anulam mutuamente, o que vai otimamente bem para o Brasil dos “Sem-Crise”, onde “demissão” é palavra fora do dicionário e aumento de salário se dá por decurso de prazo, haja o que houver com o “País real”, onde se irmanam, no mínimo na absoluta falta de pressa, situação e oposição.

Uma leitura objetiva do ramerrame e do prende-e-solta destes dois anos de enfrentamento surdo entre a trincheira solitária de Curitiba e o grande território ocupado do Judiciário de modo nenhum autoriza que se deixe de levar a sério a ameaça prometida de castrar a Polícia Federal e assumir oficialmente que, nesta terra de avessos, pau que não bate em delcídio também não bate em marcelo nem, muito menos, em luiz, por mais ululantes que sejam os fatos.

Só a rua salva este país. Se no próximo dia 13 o Brasil não der prova indiscutível de apoio maciço à sua última célula saudável, a doença terá vencido e não haverá segunda chance.

* FERNÃO LARA MESQUITA É JORNALISTA, ESCREVE EM WWW.VESPEIRO.COM

Opinião por FERNÃO LARA MESQUITA