Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Suspense grego

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Por Redação
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A Grécia mantém o mundo em suspense, enquanto seu governo, enfrentando protestos de rua e forte oposição política, tenta obter a aprovação de novas medidas de aperto fiscal, em mais um esforço para evitar o calote. Se o plano for aprovado no Parlamento, poderá ser liberada mais uma fatia de 12 bilhões do pacote de auxílio de 110 bilhões montado há pouco mais de um ano pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Sem esse dinheiro o Tesouro grego será incapaz de pagar as dívidas com vencimento em julho. O primeiro passo para a adoção das novas medidas foi dado na terça-feira, quando o primeiro-ministro, George Papandreou, obteve do Parlamento um voto de confiança. Foram 155 votos favoráveis, 143 contrários e 2 abstenções. Na quinta-feira foram acertados com o FMI e a União Europeia os detalhes do plano. Faltaria ao governo conseguir o apoio político para iniciar a nova fase do ajuste. Se o esforço der certo, mais uma parcela da ajuda será liberada em julho. Além disso, novo empréstimo, estimado em 120 bilhões, está em discussão. O governo grego tem ao mesmo tempo negociado com a chamada troica - FMI, União Europeia e Banco Central Europeu (BCE) - e enfrentado a resistência da oposição e dos grupos mobilizados contra os cortes do gasto e o aumento de impostos. Para tornar o remédio menos amargo, o governo se dispôs a abandonar certas medidas mais dolorosas, como o aumento da carga tributária lançado sobre trabalhadores de baixa renda. A mudança desagradou aos técnicos da troica. Mas o acordo alcançado na quinta-feira inclui maiores impostos e maior contenção de despesas. O ajuste deve ser suficiente para uma economia de 6,4 bilhões neste ano. Além disso, está previsto um avanço nas privatizações.O quadro seria muito mais simples, neste momento, se o grande problema fosse a liquidação das contas com vencimento nos próximos meses, mas a situação é muito mais grave. Mesmo com um grande aperto fiscal e com todo o sacrifício imposto à população - o desemprego passou de 11,6%, em março do ano passado, para 16,2%, neste ano -, será muito difícil o governo grego pagar as dívidas sem uma reestruturação. Algum tipo de calote ainda é altamente provável. Essa opinião é obviamente partilhada pelo governo da maior economia europeia, a Alemanha, embora nenhuma autoridade europeia admita abertamente o risco. A primeira-ministra Angela Merkel tem liderado um esforço político para envolver os bancos no socorro à Grécia. A participação seria voluntária. Os banqueiros aceitariam rolar a dívida e facilitar seu pagamento, talvez incorrendo em alguma perda. Nesse caso, talvez o acerto seja visto, tecnicamente, como algo diferente de um calote. O detalhe é importante, porque os próprios bancos são sujeitos à avaliação de risco.Um calote atabalhoado, argumentam os defensores de uma reestruturação "voluntária", seria desastroso para o sistema financeiro e para os demais países com dívida pública elevada. Portugal e Irlanda, já envolvidos em programas financiados pela União Europeia e pelo FMI, poderiam enfrentar novos problemas.Nem a maior potência econômica ficaria ilesa, no caso de um calote grego. Quem o afirma é Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). "O impacto nos Estados Unidos", segundo ele, "seria significativo." O choque seria indireto, porque os bancos americanos têm negócios importantes com bancos europeus diretamente expostos ao risco da dívida grega. Mas poderia, segundo Bernanke, tornar ainda mais lenta a recuperação do país. O FMI e o BCE têm rejeitado toda insinuação a respeito de uma reestruturação da dívida grega. O BCE tem um motivo especialmente forte, porque detém uma carteira de títulos de alto risco, acumulados durante operações de ajuda a governos. Um calote afetaria o valor desses papéis.A dívida pública da Grécia está estimada em 157,1% do PIB neste ano e deve subir para 159,3% em 2012, segundo instituições multilaterais. Mas todos os governos do mundo rico estão superendividados. A média estimada para os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 102% em 2011 e de 105% em 2012. Todos têm motivo para seguir com muito nervosismo a evolução do drama grego.