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Tolerância à inflação

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Por Redação
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A meta de inflação será mantida em 4,5% em 2013, se isso depender do ministro Guido Mantega, informaram fontes do Ministério da Fazenda. Buscar uma inflação mais baixa poderá atrapalhar o crescimento da economia, argumentaram. Se essa opinião prevalecer, o Brasil se manterá, entre os emergentes, como o País mais tolerante à alta de preços - mesmo sem alcançar, como contrapartida, as taxas mais altas de expansão do Produto Interno Bruto (PIB). A decisão oficial sobre a meta de 2013 será anunciada até o fim do mês pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do Banco Central (BC). Os 4,5% foram postos no centro do alvo pela primeira vez em 2005. Nesse ano ainda houve margem de variação de 2,5 pontos para cima ou para baixo. A margem foi reduzida para 2 pontos em 2006 e aí se mantém.Também essa margem permite uma ampla tolerância à inflação. Mesmo assim, o espaço de variação foi insuficiente para conter o índice, nos últimos tempos. O aumento de preços acumulado em 12 meses chegou a ultrapassar o limite superior de 6,5%.O BC e o Ministério da Fazenda se comprometem, agora, a manter a inflação abaixo do teto em 2012. O mercado financeiro ainda projeta para este ano um resultado superior a 6%. Mas a meta anunciada oficialmente pelas autoridades é atingir os 4,5% no fim do próximo ano. Instituições financeiras e consultorias independentes ainda apostam num resultado pior que o prometido pelas autoridades. No fim da semana passada, projetavam uma taxa de 5,18% para o fim de 2012, segundo a pesquisa Focus divulgada nessa segunda-feira pelo BC. O Brasil poderia ter adotado um objetivo mais ambicioso há alguns anos. A redução da meta foi proposta em 2006 pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva preferiu adotar uma política de contemporização. Naquele momento, o ministro da Fazenda já era Guido Mantega e sua atuação era apoiada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Os dois já haviam jogado em parceria - ele ainda como presidente do BNDES - quando combateram a proposta, defendida pelo ministro Antonio Palocci, de um prazo razoável para a eliminação do déficit público. Retomado anos mais tarde, esse objetivo nunca foi perseguido seriamente.A promoção do crescimento econômico tem sido o argumento usado para a manutenção da meta de 4,5%. Segundo esse raciocínio, para levar a inflação a um nível mais baixo o BC precisaria fixar juros muito elevados. Isso limitaria severamente o consumo, o investimento e a produção. Essa alegação é agora repetida, mas com um acréscimo: diante da insegurança internacional, seria imprudente um aperto monetário mais forte no Brasil. Não é difícil contestar esses argumentos. Outros países emergentes têm crescido tanto quanto o Brasil e até mais, por um período mais longo, com metas de inflação mais baixas e juros menores. Há exemplos não só na Ásia, mas também na América Latina. Trinta e um países desenvolvidos e em desenvolvimento adotam regime semelhante ao brasileiro, mas só cinco - Armênia, Geórgia, Indonésia, Rússia e Turquia - perseguem metas mais altas que a do Brasil. Inflação mais baixa é perfeitamente compatível com juros menores, se um dos mais importantes fatores inflacionários, o excesso do gasto público, for combatido com persistência. Quando essa política é seguida, é possível formar reservas nos tempos bons para aumentar a despesa do governo quando é preciso dar um impulso extra à economia. No Brasil, a tolerância à inflação é consequência da opção pela política da gastança. Uma política fiscal mais rigorosa, associada a um melhor padrão de administração pública, permitiria uma eficiência muito maior no uso de recursos governamentais. O resultado seria uma economia mais produtiva, com maior potencial de crescimento e menos propensa a desajustes inflacionários. O caminho para juros mais baixos começa na boa gestão de recursos públicos. Qualquer outro percurso conduz à perpetuação da ineficiência e da inflação.