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Tratar com bandidos

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Por Redação
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Não foi certamente intenção de Michel Temer referir-se a membros de sua equipe – e nem seria justo sugerir que cometeu um ato falho –, mas a espécie de desabafo a que o presidente interino se entregou na terça-feira ao rebater críticas a sua gestão com o argumento, entre outros, de que tem experiência no trato com “bandidos” pode ser interpretada como uma boa notícia. Considerando que o rigor moral não é característica que sobressaia no perfil de muitos dos integrantes do primeiro escalão do governo provisório, a fala de Michel Temer deixou claro que ele está atento a essa constrangedora realidade e, sempre que entender necessário, reagirá com rapidez e firmeza, como o fez ao exonerar Romero Jucá do cargo de ministro do Planejamento.

Antes de serem tomadas como um libelo contra as escolhas de Temer, as restrições do ponto de vista ético que não apenas nós fazemos a parte do primeiro escalão do atual governo devem ser compreendidas como decorrência da ampla e secular contaminação do sistema político-partidário pelo nefasto patrimonialismo, expressão que define, em sentido lato, a prática da apropriação privada da coisa pública.

De fato, a repulsiva naturalidade com que políticos e gestores públicos se permitem, em benefício próprio e de seus grupos e partidos, meter a mão no que não lhes pertence é uma herança colonial, mas aprimorada e elevada à condição de método político pelo lulopetismo que também devastou a economia brasileira com seu populismo irresponsável. Essa flagrante evidência, explicitada no fato de estar hoje na cadeia um amplo e seleto grupo de ex-dirigentes do PT, explica o fato de, agora na oposição sem tréguas ao governo provisório, os petistas acusarem Michel Temer e seus apoiadores de tudo, principalmente de serem golpistas, mas sempre evitando cuidadosamente referências à corrupção. É a tal história da corda em casa de enforcado.

A corrupção no trato da coisa pública infelizmente faz parte da realidade brasileira – e nisso o Brasil não está sozinho. Mas a Operação Lava Jato está aí a demonstrar que as nossas instituições democráticas são suficientemente fortes para identificar os corruptos e entregá-los à Justiça, onde quer que despontem no aparelho estatal.

É também muito bom saber que o presidente interino está disposto a colocar a serviço do País sua experiência no trato com bandidos, adquirida em duas passagens pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo.

No momento, não é só a corrupção que pode comprometer gravemente a eficiência do governo. As maiores ameaças aos esforços de reconstrução nacional são de natureza genuína ou oportunisticamente ideológica que surgem a partir do anúncio das primeiras medidas de saneamento da economia. Os protagonistas da ruína e do saque da economia nacional tentam agora convencer os brasileiros de que estarão sendo vítimas de retrocessos nas conquistas sociais e do avanço das elites sobre os direitos dos trabalhadores.

O PT, é claro, tentará permanecer à frente dessa linha de ataque, com o apoio das organizações sindicais e sociais que controla e dos pequenos partidos de esquerda que o apoiam. E o fogo será concentrado – aliás, já começou – nas indispensáveis medidas de austeridade que implicam cortes de despesa em todas as áreas do governo, inclusive na Saúde e na Educação.

O populismo esquerdista do PT tenta incutir na cabeça das pessoas a ideia de que o governo tudo pode, basta querer. Sem vontade política, de fato, nada acontece. Mas a vontade, sem os recursos indispensáveis, é inerte. E foi nessa condição que os estroinas do lulopetismo deixaram o País. O déficit do orçamento deste ano é estimado em astronômicos R$ 170,5 bilhões. Não há dinheiro, o Brasil está quebrado. Obra do PT. Alegar agora que o governo interino conspira contra os mais pobres é falta de escrúpulos, desfaçatez, pura bandidagem. É bom saber, então, que o País tem na chefia do Executivo alguém com experiência em tratar com bandidos.