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Um Fórum de crise

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Por Redação
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Os sinais de recuperação nos Estados Unidos foram um raro toque de otimismo na reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, num ambiente de frustração diante da incapacidade dos europeus de se articular para resolver seus problemas. Sujeitos a cobranças e pressões, os líderes da zona do euro ficaram em posição semelhante àquela ocupada muitas vezes pelos latino-americanos, quando se metiam em suas trapalhadas costumeiras. A censura menos diplomática partiu do primeiro-ministro inglês David Cameron. Além de insistir em ações mais decididas e mais eficazes nos países da união monetária, ele acusou o governo alemão de fazer menos do que poderia para ajudar os mais endividados a sair do atoleiro. No dia anterior, a chanceler Angela Merkel havia tentado repelir as acusações de falta de solidariedade. Os alemães, segundo ela, apenas evitavam compromissos que não tinham a certeza de poder cumprir. A novidade foi que as censuras e cobranças foram dirigidas ao governo em melhor situação, enquanto foram poupados aqueles mergulhados em dificuldades. Mais que isso, houve elogios aos programas de ajuste e de reformas adotados em Portugal, Espanha e Itália. Ninguém foi tão compreensivo quando se tratou da Grécia. No máximo, houve manifestações de confiança na conclusão de um acordo entre o governo grego e os bancos privados para a redução da dívida, uma espécie de calote consentido. O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, foi mais gentil que David Cameron, ao mencionar a crise do euro, mas deu o recado com suficiente clareza. A economia dos EUA, disse o secretário, poderá crescer mais velozmente quando os governos da união monetária tiverem avançado com mais firmeza na solução da crise das dívidas soberanas. Os europeus, segundo ele, precisarão de ajuda externa para suas políticas de ajuste, mas antes deverão demonstrar a disposição de cuidar dos problemas com maior eficiência. No começo da semana, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, já havia aumentado a pressão sobre os governos da zona do euro, ao defender, num discurso em Berlim, um reforço do fundo europeu de resgate - ideia rejeitada pelos alemães - e um novo esquema de partilha de responsabilidades, com a criação de um título nos moldes do eurobônus, outra proposta repelida pelas autoridades da Alemanha. Lançar um papel desse tipo seria incentivar a irresponsabilidade fiscal, segundo o ministro das Finanças, Wolfgang Schäeuble. Talvez os governos da zona do euro possam apresentar alguma surpresa muito positiva, na reunião desta segunda-feira, marcada para a definição de um pacto fiscal de longo prazo. Medidas sérias de longo prazo podem aumentar a credibilidade dos governos, mas não tornam dispensáveis ações firmes e bem planejadas para atenuar as pressões imediatas. Por enquanto, só o Banco Central Europeu tem mostrado agilidade e clareza de propósitos em grau suficiente para impedir uma deterioração mais rápida do quadro regional. Não houve grandes surpresas do lado dos países emergentes e em desenvolvimento. A China manteve uma presença marcante, como objeto e como participante das discussões. Empresários e funcionários chineses mantêm a habitual discrição em seu novo papel de representantes da segunda maior economia do mundo. Não demonstram arrogância e continuam empenhados em aproveitar as oportunidades oferecidas pelo Fórum Econômico Mundial. O Brasil, segundo o chanceler Antônio Patriota, já não precisa de Davos para reconhecimento internacional. Além disso, seu crescimento o coloca na contramão da maior parte dos demais países, incluídos alguns grandes emergentes. Patriota foi a única autoridade brasileira de primeiro escalão presente em Davos. Dirigentes da Petrobrás, frequentadores habituais do Fórum, organizaram com o Ministério do Desenvolvimento e o BNDES uma reunião para mostrar oportunidades de investimento na área de petróleo e gás. Foi a ação mais importante do governo brasileiro. As autoridades de primeiro escalão deixaram o Fórum para gente em busca de reconhecimento, como a chanceler Angela Merkel, o primeiro-ministro David Cameron e o secretário do Tesouro Timothy Geithner.