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Um nome aplaudido para o Fed

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Por Redação
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O presidente Barack Obama deu uma notícia bem recebida nos mercados, ao indicar a economista Janet Yellen para assumir a presidência do mais poderoso banco central do mundo, o Federal Reserve (Fed), no fim de janeiro de 2014. O primeiro desafio da sucessora de Ben Bernanke - ninguém duvida de sua confirmação pelo Senado - será conduzir com o mínimo de turbulência a transição da política monetária americana para uma fase de maior austeridade. O anúncio, em maio, de uma possível mudança política ainda neste ano foi seguido de intensa agitação nos mercados financeiros e cambiais. O real foi uma das moedas mais depreciadas nesse período, mas o efeito no Brasil teria sido provavelmente muito maior sem as intervenções do Banco Central. O Fed executa desde o ano passado a terceira fase de sua política de afrouxamento monetário, destinada a estimular o crédito, a facilitar a reativação da economia e a favorecer a criação de empregos. A estratégia combina a manutenção de juros básicos muito baixos, entre zero e 0,25% ao ano, e a emissão mensal de até US$ 85 bilhões, postos em circulação por meio da compra de títulos. Não deve ocorrer, no início, um enxugamento do dinheiro emitido, mas apenas uma redução gradual dos estímulos. A adoção da nova política dependerá de sinais mais claros de uma firme retomada do crescimento.Quanto aos juros, devem ser mantidos pelo menos até 2015. Até lá, o desemprego deverá ter diminuído dos atuais 7,3% para 6% da população ativa e a inflação deverá ter chegado ao patamar de 2,5% nas projeções para dois anos. Atualmente os preços ao consumidor continuam subindo menos de 2% ao ano. Aqueles números, no entanto, são apenas sinais de orientação. Não se trata de gatilhos. A instabilidade nos mercados voltou a intensificar-se pouco antes da reunião de setembro do Comitê de Mercado Aberto do Fed, responsável pela política monetária americana. Era iminente, segundo se especulava, o início de implementação da nova estratégia. Mas a decisão foi deixada para o futuro. "Não imagino ninguém mais indicado para dirigir o Fed neste momento", disse ontem cedo o diretor do Departamento Monetário e de Mercado de Captais do FMI, José Viñals. A ênfase da linguagem sugere mais que um elogio formal e a ocasião não podia ser mais apropriada para o comentário. Viñals estava apresentando o Relatório Global de Estabilidade Financeira, do FMI. Os desafios da transição para a estabilidade foram o tema central do estudo. Suas análises são complementadas com sugestões de políticas para enfrentar sem maiores estragos as consequências da mudança esperada na política monetária americana e outros eventos associados à evolução dos mercados financeiros - como a adoção de novos padrões de controle. Janet Yellen, professora na Universidade da Califórnia, presidiu o Conselho de Assessores Econômicos do presidente Bill Clinton e o Federal Reserve Bank de San Francisco e hoje é vice-presidente do Fed. É considerada partidária de uma política monetária moderada e propícia à criação de empregos. Sua preocupação com o tema é visível em sua especialidade acadêmica, o mercado de trabalho. Se esses dados forem relevantes para alguma previsão, os mercados poderão esperar uma transição conduzida com mão leve, até porque a inflação permanece moderada nos Estados Unidos. O ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers, primeira escolha de Obama, enfrentaria forte resistência no Senado e desistiu da indicação. "O Brasil está pronto para enfrentar os desafios", disse o assessor do Departamento Monetário e de Mercado de Capitais do FMI, Mathew Jones, lembrando o recente ajuste do câmbio, as intervenções do Banco Central para garantir a oferta de dólares e a alta de juros nos últimos meses. Segundo ele, foram tomadas as medidas necessárias para pôr a casa em ordem. Isso pode ser verdade em relação às políticas monetária e cambial. Nas demais áreas da política econômica a história é outra.