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Uma economia sem músculos

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Por Redação
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Longe de ser um sinal de vigor, o superávit comercial de março é um claro sintoma de recessão e de enfraquecimento da economia brasileira. O efeito da recessão é evidente no recuo das importações totais: o valor importado, de US$ 17,51 bilhões, foi 18,5% menor que o de um ano antes e refletiu a estagnação do mercado interno. O resultado geral só foi positivo porque o valor exportado, de US$ 17,63 bilhões, caiu um pouco menos e ficou 16,8% abaixo do contabilizado em março de 2014. Mas o indício mais grave de enfraquecimento foi o valor pífio das importações de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos. Os importadores gastaram US$ 3,63 bilhões, 16,3% menos que no mês correspondente do ano anterior. O ritmo da atividade, quando a economia voltar a crescer, dependerá do potencial produtivo do País, severamente reduzido, nos últimos anos, por causa do baixo nível de investimento. Os números do comércio exterior têm confirmado a pouca disposição dos empresários de investir na ampliação da capacidade de suas companhias. Em 2014, a importação de bens de capital diminuiu 7,6% e ficou em US$ 47,71 bilhões. No primeiro trimestre deste ano, o valor ficou em US$ 10,7 bilhões e foi 10,9% inferior ao do período de janeiro a março de 2014. Foi uma redução parecida com a das compras de matérias-primas e bens intermediários (10%), mas os números indicam problemas diferentes nos dois casos. As compras de matérias-primas e bens intermediários normalmente refletem as condições da demanda no curto prazo. Os volumes comprados variam de acordo com a perspectiva de procura dos bens finais nos meses seguintes. Podem, portanto, voltar a crescer rapidamente, se as condições de mercado melhorarem. As compras de máquinas e equipamentos dependem de apostas de maior alcance e mais arriscadas. Não se amplia ou se troca o equipamento de uma fábrica sem a expectativa de firme crescimento das vendas por um prazo razoável. Nos últimos dois ou três anos, a maior parte dos empresários teve poucos motivos, exceto em alguns segmentos industriais, para se arriscar em projetos de ampliação de capacidade. A baixa disposição para investir foi evidenciada, até de modo mais claro, no desempenho da indústria brasileira de bens de capital. Os últimos números oficiais do setor, de fevereiro, foram divulgados há pouco pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em fevereiro, os fabricantes de máquinas e equipamentos produziram 25,7% menos que um ano antes. Em 12 meses, o total fabricado foi 13,5% menor que no período imediatamente anterior. O mau desempenho do segmento refletiu, nos últimos anos, a estagnação da indústria geral e o baixo ritmo da atividade econômica. A indústria geral, pelos dados do IBGE, cresceu 0,4% em 2011, encolheu 2,3% no ano seguinte, expandiu-se 2,1% em 2013, recuou 3,2% em 2014 e diminuiu 7,1% nos 12 meses terminados em fevereiro deste ano. O segmento de bens de capital avançou 5% no primeiro ano do governo da presidente Dilma Rousseff. Recuou 11,2% em 2012, progrediu 12,2% em 2013 e fechou 2014 com um desempenho negativo de 9,6%. Nos 12 meses terminados em fevereiro deste ano, sua produção encolheu 21,1%. A forte redução das compras de bens de capital, tanto nacionais quanto importados, é explicável pela perda de vigor de todos os segmentos da indústria - extrativa, de transformação, de construção e também de serviços de eletricidade, gás e água. Reflete, portanto, o fracasso das políticas mais alardeadas nos últimos quatro anos - de recuperação e ampliação da infraestrutura, de construção de habitações populares e de estímulo ao consumo e a indústrias selecionadas. Esse estímulo incluiu medidas protecionistas e de preferência a fornecedores nacionais. A presidente já reconheceu a necessidade de ajuste das contas públicas. Falta reconhecer o fiasco da política e apoiar a definição de um novo rumo. A recuperação, neste ano, ainda será dificultada pelos efeitos da Operação Lava Jato. Mas será uma purgação política e economicamente muito saudável.