Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Uma fala oportuna

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Inconformados com a condenação por corrupção que lhes foi imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os réus petistas da Ação Penal 470, com o apoio de atuais dirigentes de seu partido, têm tentado desqualificar o julgamento, acusando a Suprema Corte de ter "politizado" a questão. Com essa temerária investida revanchista, ela própria se encarregando de tornar política uma questão estritamente jurídica - e penal -, os condenados e seus apoiadores na direção do Partido dos Trabalhadores prestam mais um enorme desserviço ao País, na medida em que procuram desacreditar um dos três poderes da República, exatamente aquele responsável por zelar pelo fiel cumprimento da lei e, sobretudo, dos fundamentos constitucionais. Com essa atitude irresponsável de flagrante desrespeito a um dos pilares de sustentação do nosso sistema democrático, tudo o que esses maus políticos conseguem é desmoralizar a própria política, atividade essencial à democracia.É em muito boa hora, portanto, que a presidente Dilma Rousseff foi a público para inserir no contexto apropriado - a favor da democracia e não na defesa de políticos corruptos - essa questão que o julgamento do mensalão trouxe ao proscênio da discussão política. Falando na abertura oficial da 15.ª Conferência Internacional Anticorrupção, oportunidade escolhida a dedo, a chefe do governo foi enfática: "O combate ao malfeito não pode ser usado para atacar a credibilidade da ação política, tão importante nas sociedades modernas, complexas e desafiadoras. O discurso anticorrupção não deve se confundir com o discurso antipolítica, ou anti-Estado, que serve a outros interesses. (...) Deve, ao contrário, valorizar a política, a esfera pública, a ética, o conflito democrático entre projetos que nela têm de ter lugar".A presidente Dilma Rousseff sustentou, portanto, o mesmo ponto de vista defendido pela ministra Cármen Lúcia no momento em que, em sessão plenária do Supremo Tribunal Federal, condenava José Dirceu por corrupção ativa. Fez questão de deixar claro a ministra que, naquele momento, estavam sendo julgadas "pessoas que exerciam cargos políticos" e que "eventualmente tenham errado", e acrescentou: "Mas isso não significa, principalmente para os jovens, que a política seja necessariamente, sempre, corrupta. Ao contrário, a política é necessária para a sociedade" e por isso "há de ser sempre exercida com ética - porque é a ética ou o caos".Para não deixar dúvidas sobre as intenções de seu oportuno pronunciamento, Dilma Rousseff preocupou-se ainda em destacar a importância da atuação de instituições que, por sua ação na fiscalização e investigação de malfeitos nas atividades governamentais, os petistas mais radicais passaram a atacar com maior intensidade a partir do julgamento do mensalão, como a Controladoria-Geral da União (CGU), o Tribunal de Contas da União (TCU), a Polícia Federal, o Ministério Público e, de modo especial, a imprensa, definindo-os como "instrumentos sólidos" da democracia: "A nossa democracia foi feita também baseada no fato de que a luta anticorrupção é uma luta democrática. O nosso governo oferece amplo respaldo aos órgãos de controle na fiscalização, investigação e na punição da corrupção e de todos os malfeitos".Sobre o papel da imprensa em particular, Dilma fez contraponto à anunciada disposição de líderes petistas, com destaque para o presidente nacional do partido, o iracundo Rui Falcão, e o condenado José Dirceu, em seu blog, de colocar o "controle social da mídia" no rol das prioridades programáticas do Partido dos Trabalhadores para o próximo ano: "Mesmo quando há exageros - e nós sabemos que em qualquer área eles existem -, é sempre preferível o ruído da imprensa livre ao silêncio tumular das ditaduras". É com aplausos, portanto, que a Nação recebe essa clara, oportuna, corajosa e reiterada manifestação de repúdio da presidente Dilma Rousseff à indisfarçável conspiração contra a liberdade de imprensa que vem sendo urdida por notórios inimigos seus, muitos deles abrigados em seu próprio partido, alguns inconformados com a perspectiva de passar uma boa temporada atrás das grades.