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Uma postura auspiciosa

Adotar postura firme em relação a questões controvertidas, muito especialmente aquelas que tendem a ser vistas como impopulares ou que podem gerar insatisfações em diferentes esferas do poder, é um ônus que o governante responsável pode tentar amenizar

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Por Redação
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Adotar postura firme em relação a questões controvertidas, muito especialmente aquelas que tendem a ser vistas como impopulares ou que podem gerar insatisfações em diferentes esferas do poder, é um ônus que o governante responsável pode tentar amenizar, mas do qual jamais deve fugir. Se o fizer, corre o risco de se render ao populismo, essa praga que por mais de uma década levou a extremos a disfunção e a decomposição do sistema político-partidário e da gestão econômica no Brasil, com o resultado que todos conhecem. Em entrevista ao jornal O Globo, o presidente Michel Temer anunciou a disposição de adotar medidas que, segundo admitiu, não exigem mais as cautelas que eram impostas pela condição de interino. E não poderia ser mais claro ao manifestar firme discordância com relação ao projeto de reajuste salarial dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). “Isso daí gera uma cascata gravíssima”, disse Temer, referindo-se ao fato de que a correção dos vencimentos dos ministros da Suprema Corte se aplica automaticamente às magistraturas federal e estaduais, com forte impacto sobre as despesas públicas. Uma medida dessas contraria os esforços do governo no sentido de ajustar as finanças públicas, destroçadas pela administração lulopetista. “Não só eu, mas muitos entendem que não é o momento adequado para isso”, completou.

Anteriormente favorável à aprovação daquele reajuste, a bancada do PMDB no Senado – onde tramita agora o projeto já aprovado na Câmara – sinalizou mudança de posição após a manifestação de Temer, conforme revelou o peemedebista Valdir Raupp (RO): “Acho que isso (mudança de posição) já está sendo analisado. Se for uma posição da maioria, do presidente, é uma questão a ser analisada”.

A firmeza de Michel Temer, portanto, já se reflete na bancada governista no Parlamento, em benefício da unidade indispensável para a aprovação das medidas necessárias para o enfrentamento da crise, muitas delas criticadas até por aliados. A esse respeito, Temer foi enfático na entrevista aos jornalistas: “É claro que preciso, a partir de agora, tomar posições que podem desagradar a setores”.

É auspiciosa a postura de Michel Temer, porque o que está em jogo é o futuro do País, de milhões de brasileiros que sofrem com a crise econômica, de modo especial os 12 milhões de desempregados que um dia se iludiram com as promessas de Lula & Cia. A luta pela retomada do crescimento econômico exige decisões corajosas e lúcidas. A equipe escolhida por Temer para conduzir esse processo já deu demonstrações de que tem competência para enfrentar o desafio. Levado por circunstâncias especiais ao posto que ocupa, Temer sabe que não dispõe de amplo apoio popular para realizar um trabalho que exige participação e colaboração de toda a sociedade: “Antes de recuperar a economia tem de recuperar a confiança”, enfatizou.

A recuperação da confiança no governo é exatamente o que tentam evitar aqueles que – por incompetência e ilegalidades – foram apeados do poder. Já deixaram claro que apelarão para todos os recursos para evitar que Temer seja bem-sucedido, escondendo o fato de que os maiores beneficiários do êxito no combate à inflação e ao desemprego serão os brasileiros. Incapazes de reconhecer os erros que cometeram e que são os responsáveis pelo impeachment da incompetente Dilma Rousseff, petistas e aliados torcem contra Temer e tentarão sabotar qualquer iniciativa sua. Valem-se da eventual impopularidade de medidas necessárias para o ajuste fiscal, como a reforma da Previdência ou a definição de um teto para os gastos públicos, para, espertamente, atribuir ao presidente a intenção de “subtrair direitos dos trabalhadores”.

Por isso, a conquista do apoio para as medidas corretivas é um desafio que só será superado quando o governo convencer os brasileiros de que elas são indispensáveis e urgentes para o País superar a calamitosa situação em que os governos petistas o deixaram.