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Uma reativação desigual

A queda entre o primeiro e o segundo trimestres é explicável principalmente pelo recuo de 4,66% na produção agropecuária

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Por Redação
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A recuperação econômica firmou-se no segundo trimestre e o País escapou da recessão, mas, apesar disso, as contas nacionais poderão mostrar um Produto Interno Bruto (PIB) menor que o do período de janeiro a março. Desde abril a indústria de transformação tem operado com maior vigor e a retomada é sensível também no setor de serviços, incluído o comércio. Além disso, o desemprego, ainda muito elevado, tem diminuído, com maior oferta de postos na atividade urbana. Mas o valor produzido no conjunto dos setores pode ter diminuído no período de abril a junho, porque o desempenho da agropecuária foi menos brilhante que nos três primeiros meses do ano. Economia melhor com PIB menor?

Esse paradoxo aparente será confirmado na próxima semana, se o recém-divulgado Monitor do PIB, produzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), refletir corretamente as tendências dos vários setores. A atualização das contas nacionais, com o PIB do segundo trimestre, será anunciada em 1.º de setembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um resultado geral negativo foi antecipado na semana passada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Segundo o Monitor da FGV, o PIB do segundo trimestre foi 0,24% menor que o do anterior e 0,30% inferior ao do mesmo período de 2016. A queda entre o primeiro e o segundo trimestres é explicável principalmente pelo recuo de 4,66% na produção agropecuária.

Os vários segmentos do setor industrial – com balanço geral negativo de 0,22% – tiveram resultados divergentes. A indústria de transformação produziu 0,45% mais que no período de janeiro a março, mas a da construção e a da extração mineral foram no rumo oposto. É especialmente animador o aumento da atividade no segmento de transformação, porque reflete uma reação cada vez mais espalhada entre diferentes tipos de fabricação. Essa melhora é em parte explicável pelas vendas internas e em parte atribuível a um sensível aumento da exportação.

No terceiro grande componente da oferta, o setor de serviços, houve expansão de 2,41%. Nesse grupo, o segmento do comércio também se fortaleceu, com avanço de 1,06%.

Do lado da demanda, houve melhora de 1,30% no consumo familiar e um avanço modesto (0,21%) no investimento em capacidade produtiva, medido pela formação bruta de capital fixo. Essa melhora se deveu exclusivamente à compra de máquinas e equipamentos, porque a crise continuou dominando a construção, tanto privada quanto de infraestrutura.

Do lado externo, a exportação de bens e serviços aumentou 1,09% no trimestre e a importação diminuiu 2,69%, num cenário de continuado reforço do balanço de pagamentos e, portanto, da capacidade brasileira de importação.

As comparações com o segundo trimestre do ano anterior confirmam o curto percurso realizado até agora. A produção geral da indústria foi 1,8% menor que a de abril a junho de 2016, principalmente por causa da retração de 7,4% no segmento da construção.

Do lado da demanda, o consumo das famílias foi 0,6% maior que o de um ano antes, em parte pelo recuo da inflação (com erosão menor da renda). A liberação das contas inativas do FGTS deve também ter ajudado. Mas o investimento fixo foi 5,1% inferior ao de um ano antes, apesar do aumento de 0,4% nas compras de máquinas e equipamentos. O conjunto foi puxado para baixo pelo recuo de 9% da construção. Isso dá uma ideia de quanto a economia poderá melhorar, se o governo reativar as concessões e parcerias para obras de infraestrutura. Além do empuxo imediato proporcionado pela mera reativação, haverá, em prazo maior, um ganho de eficiência.

Será uma surpresa se o IBGE mostrar um quadro muito diferente do indicado pelo Monitor e pelos dados já conhecidos. Os melhores detalhes são os da indústria de transformação, do comércio exterior e do consumo, ainda fraco, mas em retomada. O caminho da retomada é longo e dependerá da melhora, ainda muito problemática, das contas públicas.