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Vexame econômico

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Por Redação
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O contraste entre o Brasil e países latino-americanos governados com mais seriedade e competência foi mostrado, mais uma vez, na apresentação, na Cidade do México, do panorama econômico da região preparado pela equipe do Fundo Monetário Internacional (FMI). Os dados e análises contidos nas 125 páginas do relatório reforçam, no essencial, os diagnósticos e projeções formulados por muitos economistas brasileiros e estrangeiros de alta reputação: os problemas econômicos do Brasil são basicamente de origem nacional e refletem a qualidade das políticas federais. Desmentem mais uma vez, portanto, as alegações da presidente Dilma Rousseff, acostumada a atribuir a recessão, o desemprego, a quebradeira de empresas e outros males às condições internacionais. Numa entrevista a jornalistas estrangeiros, no dia 19, a presidente novamente alegou inocência em relação ao desastre econômico brasileiro, negando ser responsável “pelo fim do superciclo das commodities” e pela “brutal crise que afetou, a partir de 2009, os países desenvolvidos”. De fato, ela é inocente desses males, mas os países desenvolvidos voltaram a crescer e a criar empregos, enquanto o Brasil empacou em 2014, com expansão de apenas 0,1%, encolheu 3,8% em 2o15 e deve repetir esse desempenho em 2016 – mas a partir de uma base mais baixa –, de acordo com a estimativa do FMI, muito parecida com a mediana das projeções do mercado brasileiro. A maioria dos países latino-americanos tem exibido e continuará a exibir maior dinamismo, mas há uma diferença mais importante entre eles e o Brasil. Muitas economias da região foram afetadas pela desaceleração do comércio mundial, pelo menor crescimento da China, grande compradora de matérias-primas, e pela depreciação dos produtos básicos. “No entanto”, acrescenta o relatório do FMI, “em alguns casos os fatores internos foram a causa principal da pronunciada queda da demanda interna, particularmente dos investimentos.” O primeiro exemplo citado é o do Brasil. Os autores do estudo relacionam para começar, entre os principais fatores negativos, “a deterioração da dinâmica fiscal em meio a sinais políticos incoerentes (na gestão econômica) e a dificuldades para implementar o ajuste”. Mencionam também as condições financeiras apertadas, os “grandes aumentos dos preços da energia necessários, desde muito tempo, para corrigir erros de política”, além da “incerteza política”. No caso do Equador, há uma referência à rigidez das políticas macroeconômicas – num cenário complicado, obviamente, pela valorização do dólar, usado como moeda nacional. Resta um grande exemplo, o da Venezuela, mas esse é o mais simples e se pode resumi-lo com a lembrança das “arraigadas distorções políticas” e do profundo e prolongado desequilíbrio fiscal. A previsão de um ano com retração econômica de 8% e inflação de 700% é mais expressiva que qualquer condenação. O Brasil ainda é citado várias vezes no relatório, quase sempre com algum novo detalhe negativo. A retração econômica e o alto endividamento de muitas empresas, por exemplo, podem resultar em maior pressão sobre os bancos, até agora classificados entre os mais seguros do mundo. Além disso, a profunda crise brasileira é apontada como fator de risco para a região. Uma piora do quadro do Brasil tanto pode afetar o comércio sul-americano quanto elevar o custo do financiamento das economias da vizinhança. A posição brasileira fica ainda mais desfavorável quando se aponta a condução prudente da política econômica de vários países da região. Melhores fundamentos têm permitido a alguns governos adotar políticas compensatórias ou alongar os ajustes. Graças a isso tem sido possível manter taxas ainda positivas de crescimento. Detalhe: para o Brasil, a baixa dos preços das commodities foi bem menos danosa do que para o Chile, o Peru, o Equador e a Colômbia. Os estragos foram mesmo causados principalmente pela baixa qualidade da política econômica.