Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Vigilância responsável

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Por Redação
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Começam a sair as primeiras sondagens de opinião sobre o novo governo federal. Tendo em vista que não foram tranquilas as primeiras semanas de Michel Temer na Presidência da República - com Lava Jato, demissões, volta do Ministério da Cultura, etc. -, há natural ansiedade para saber como o novo inquilino do Palácio do Planalto está se saindo na voz das ruas. Não se deve esquecer que, se o processo de impeachment é naturalmente repleto de expectativas, o caso de Dilma Rousseff é ainda mais significativo, pois não se trata apenas de um juízo sobre sua conduta. São suas ações que estão em análise pelo Senado, mas elas estão ali sobre um pano de fundo mais amplo - os 13 anos de lulopetismo no governo. A aspiração da população é que o PT seja apeado do poder. Nesse cenário, é mais que natural que se espere muito do governo de Michel Temer. Não se espera apenas, por exemplo, que o novo governo não infrinja a Lei de Responsabilidade Fiscal. A expectativa da população é por um novo modo de governar - mais transparente e menos corrupto, mais eficiente e menos aparelhado -, capaz de recolocar o País nos trilhos do desenvolvimento. Tais expectativas são muito positivas. Certamente elas ajudam a avivar a responsabilidade não apenas do presidente interino, mas de toda sua equipe. Qualquer omissão, deslize ou aparência de ineficiência suscita pronta reação da população. Esse fenômeno é especialmente acentuado nos tempos atuais, em que a comunicação é instantânea. Mas há que ter cuidado com o que se espera. É bom exigir urgência, mas deve-se ter presente que as enormes dificuldades que o País atravessa não serão resolvidas do dia para a noite. Afinal, foram 13 anos de PT no governo. Treze anos de uso da máquina pública em prol de um projeto de poder que dividiu a Nação. Não há desmonte instantâneo possível para essa máquina. Se é certo que as mudanças exigem firmeza, não menos certa é a necessidade de tempo para que elas ocorram. A aspiração por uma mudança imediata pode ser contraproducente, a começar por impedir que se olhe a situação do País e do governo com um mínimo de realismo. Sejam muitos ou poucos os erros de Temer no exercício da presidência, não há qualquer dúvida de que o País deu um passo de gigante ao afastar Dilma Rousseff do cargo, possibilitando que o Senado julgue as acusações que recaem sobre ela. Seja qual for o resultado imediato alcançado pelo governo interino, o apeamento da tigrada petista do poder é um enorme avanço institucional. Com o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República, as instituições políticas voltaram a ser oxigenadas, depois de serem asfixiadas pelo modo petista de impor, à revelia da lei e dos bons costumes, suas vontades ao Estado e à sociedade. Diante de todo esse recente progresso, alcançado há apenas um mês, seria de requintada perversidade deixar o País voltar à situação de antes. Deveria Michel Temer não ter recuado e mantido a Cultura sob a pasta da Educação? Deveria demitir tal ou qual ministro envolto em suspeitas de corrupção? Ou talvez nem tê-lo nomeado? É certo que a cada dia surgirão novos questionamentos sobre as decisões do presidente interino. Em boa medida, serão questionamentos provenientes da expressiva parcela da população que apoiou o afastamento de Dilma Rousseff e, se bem encaminhados, poderão ajudar decisivamente a melhorar a qualidade das decisões de Michel Temer e de sua equipe. Seria descabido, pois pouco afeito ao ambiente de liberdade próprio de uma democracia, fazer censuras a essas críticas. E temos feito não poucas críticas ao presidente em exercício, nestas páginas, sempre lembrando que a vigilância do poder é sempre um enorme bem que se faz ao próprio poder. Um açodamento pela mudança pode, no entanto, matar a própria mudança, ainda frágil. O País merece esse cuidado de não perder a capacidade de distinguir as abissais diferenças entre o atual governo e a temporada de Lula e sua tigrada - da qual Dilma foi não mais que o epílogo.