
13 de abril de 2020 | 03h00
Pandemia
Cloroquina em debate
A entrada da cloroquina no debate político é uma clara demonstração de que, no Brasil, até o esperado acontece sempre de forma inesperada. Embora fosse esperado que o presidente da República e alguns governadores politizassem a crise, inesperadamente assiste-se a algo assombroso: políticos discutindo sobre algo que apenas a comunidade médica está capacitada a debater. Não compete ao presidente recomendar medicamentos, mesmo se tivesse formação para tal. Isso cabe apenas à comunidade médica. Já os oponentes do presidente deveriam ter a grandeza que o acusam de não ter e jamais ter entrado nesse debate.
LUCIANO DE OLIVEIRA E SILVA
LUCIANO.OS@ADV.OABSP.ORG.BR
SÃO PAULO
Tragédia da talidomida
Quem viveu mais de 40 anos na indústria da saúde, esteve próximo de milhares de trabalhos clínicos, participou da criação de conselhos científicos, integrou mesas-redondas, ministrou palestras em vários congressos de associações médicas, lançou produtos farmacêuticos no mercado, foi testemunha de outros medicamentos que causaram muitos danos à saúde, tem o dever de alertar a população para o perigo do uso precipitado de remédios ainda não devidamente testados. Quem tem um mínimo de conhecimento a respeito de drogas farmacêuticas sabe que seus efeitos colaterais só aparecem depois de uso intensivo, eis que o metabolismo humano absorve ou reage de forma diversa, dependendo de condições específicas do paciente ou condições socioeconômicas que alteram os efeitos das drogas. A hidroxicloroquina é um produto com indicação definida e testada, efeitos colaterais conhecidos, que podem ser extremamente severos, atingindo visão, audição e rins. Isso significa que seu uso tem de ser estritamente monitorado por médicos, com internação hospitalar em casos de indicação ainda não validada cientificamente. Hospitais e médicos têm recursos para reverter possíveis lesões, efetuando exames, adequando dosagens ou usando outros recursos para preservar a saúde do paciente. Não se podem esquecer produtos que foram devidamente testados pela vigilância sanitária de vários países da Europa e aparentemente eram seguros até que seu uso se tornou massivo. Caso da talidomida, que tragicamente afetou milhares de famílias. Medicamento não é artigo de consumo, portanto, deve ser utilizado em condições rigorosas e sob prescrição de profissionais habilitados.
JOSÉ EDUARDO BANDEIRA DE MELLO, ex-presidente da Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Abifarma)
JOSEDUMELLO@GMAIL.COM
ITU
Alternativa contra o vírus
Tal como até a água com açúcar, a hidroxicloroquina tem efeitos colaterais. Quem é contra seu uso recomenda o quê?
MARCIA MEIRELLES
MARCIAMBM@YAHOO.COM.BR
SÃO PAULO
Usar ou não usar?
Imagine você dentro de um avião que vai cair. Você encontra um paraquedas. Só que está escrito: paraquedas não testado pelo Inmetro. Você usa o paraquedas ou aguarda o Inmetro dar o parecer?
LUIZ FELIPE DE CAMARGO KASTRUP
LFCKASTRUP@GMAIL.COM
SÃO PAULO
Remédio antigo
A hidroxicloroquina foi aprovada nos EUA em 1955, é usada por médicos reumatologistas no Brasil e era vendida sem receita médica até 20 de março último nas nossas farmácias. Se fosse tão mortal e perigosa (todo medicamento pode ter efeitos colaterais em determinados pacientes), todo médico que a tivesse prescrito até 20/3 com certeza a teria receitado com precaução. Obs: desde 2017 essa droga faz parte do tratamento da chikungunya.
CARLOS R. GOMES FERNANDES, médico
CRGFERNANDES@UOL.COM.BR
OURINHOS
Vacina BCG
Há males que vêm para o bem. Está em estudo a hipótese de que os países em que a tuberculose não foi totalmente erradicada e onde ainda se aplica a vacina BCG têm dez vezes menos casos de covid-19. Isso explicaria a agressividade menor do vírus na China e na Índia quando comparada com os países da Europa e com os EUA. O Brasil estaria no primeiro grupo. É esperar para ver.
JORGE ALBERTO NURKIN
JORGE.NURKIN@GMAIL.COM
SÃO PAULO
Veterano de crises
Do alto dos meus 84 anos, não me lembro de uma única época em que o Brasil não estivesse às voltas com uma crise ou outra. Basta lembrar que antes mesmo do coronavírus já penávamos com mais de 11 milhões de trabalhadores desempregados. Na Inglaterra, experiente em países de Terceiro Mundo, é fato conhecido que o jovem que retorna de um estágio de quatro ou cinco anos no Brasil será um profissional mais competente do que seus colegas que permaneceram no Primeiro Mundo. Porque, enquanto no seu país ele encontra tudo fácil, organizado, acessível e mastigado, aqui, no Brasil, onde quase tudo é mais difícil, ele tem de aprender a “se virar”, a “enjambrar”, a “dar um jeito”, como os brasileiros, habituados a isso no seu dia a dia. Portanto, ao passo que lá no Primeiro Mundo o coronavírus constitui uma tragédia da qual o povo, acostumado às facilidades e ao conforto da organização, desaprendeu a se defender, para o brasileiro ele representa mais uma crise de que, com sua vivência, ele se há de sair melhor, pois por natureza reage ao estímulo, criando as defesas de que necessita.
JOHN CONINGHAM NETTO
MARIA.CONINGHAM@GMAIL.COM
CAMPINAS
Conforto familiar
Foi preciso um vírus para que a humanidade percebesse quanto a família é importante nos dias de hoje. Só se fala em ficar em confinamento com os familiares. Devemos pensar muito sobre isso e dar valor ao que realmente importa.
CARLOS ALBERTO DUARTE
CARLOSADU@YAHOO.COM.BR
SÃO PAULO
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