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A Petrobrás se ajusta à crise do vírus

A empresa tem nas mãos o desafio de superar duas enormes crises em menos de quatro anos

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Por Notas & Informações
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A Petrobrás sofreu um triplo impacto nas últimas semanas. As cotações do petróleo tipo Brent caíram 66% no primeiro trimestre, para cerca de US$ 22 o barril no mercado global, em razão da combinação de menor demanda com a guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia. A demanda de combustíveis cedeu cerca de 40% no mercado interno, reduzindo as receitas da companhia. E a política que parecia a mais acertada em tempos de normalidade – concentrar os esforços na produção de petróleo – sofreu os múltiplos impactos da pandemia do coronavírus. Transitoriamente, melhor poderia ter sido dispor de mais receitas de outras fontes além daquelas provenientes da venda de óleo bruto, gás e derivados.

A decisão mais recente de cortar 200 mil barris/dia (b/d) da produção de petróleo, incluindo a redução de 100 mil b/d anunciada em março, indica a capacidade de reação da Petrobrás. A companhia está postergando o pagamento de vencimentos dos administradores – mostrando que a crise alcança a cúpula da empresa – e adiando o pagamento de dividendos e de juros sobre o capital próprio relativo aos bons resultados de 2019. Entre outras medidas para proteger o caixa está a de reduzir de US$ 12 bilhões para US$ 8,5 bilhões os investimentos programados para este ano. As decisões da Petrobrás foram bem recebidas pelos investidores, registrando-se alguma recuperação das cotações dos títulos negociados em Bolsa. No primeiro trimestre, as ações preferenciais da Petrobrás negociadas na B3 caíram 54%.

A política de ajustes da Petrobrás é uma resposta à redução entre 15% e 20% da demanda global de óleo bruto prevista para os próximos meses. Se as estimativas se confirmarem, isso significará um corte de 15 a 20 milhões de b/d num consumo da ordem de 100 milhões de b/d registrado até o início deste ano.

Cabe registrar que a Petrobrás tem demonstrado notável capacidade de recuperação nos últimos anos. Devastada pela corrupção nos governos de Lula e de Dilma Rousseff, a empresa começou a ser saneada na administração Michel Temer pelas gestões comandadas pelos presidentes Pedro Parente e Ivan Monteiro, persistindo no governo atual, sob Roberto Castello Branco. Está em curso o desafio de superar duas enormes crises em menos de quatro anos.