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A queda da produtividade do trabalho

A crise por que passou o Brasil adicionou duas dificuldades aos problemas estruturais conhecidos. Um deles é a lentidão da retomada dos investimentos

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Por Redação
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Ao baixo ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) – de 1,1% no ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – soma-se outra dificuldade para a economia brasileira: a queda da produtividade do trabalho. É uma combinação que chega a surpreender, pois, em situações normais, quando a economia cresce (ainda que pouco, como vem ocorrendo nos últimos três anos), a produtividade do trabalho aumenta.

Com o crescimento, os investimentos em inovação, equipamentos, capacitação de mão de obra tendem a crescer, impulsionando a produtividade. Não foi o que se viu em 2019. “Não temos recessão. Cair a produtividade com a economia crescendo é estranho”, diz a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) Sílvia Matos, coautora de um estudo da instituição sobre a produtividade.

A crise por que passou o Brasil adicionou duas dificuldades aos problemas estruturais conhecidos. Um deles é a lentidão da retomada dos investimentos. Embora tenham crescido no ano passado, os investimentos caíram no último trimestre na comparação com o anterior.

Além disso, a recuperação do mercado de trabalho vem sendo acompanhada da perda de qualidade dos empregos. As estatísticas de ocupação registram o crescimento acentuado do mercado informal. Por se caracterizar por trabalho sem garantias legais, sem maiores exigências de qualificação e com rendimento médio inferior, esse mercado é menos produtivo que o formal.

O resultado do ano passado é particularmente ruim pois se soma à estagnação da produtividade observada em 2018 (quando cresceu apenas 0,1%). Além disso, historicamente a produtividade do trabalho é baixa no Brasil, em razão de problemas há muito conhecidos, mas que persistem quase intocados. A baixa capacidade do sistema de ensino de formar pessoas aptas a desempenhar as novas e cada vez mais complexas funções que o desenvolvimento exige e o baixo nível de qualificação profissional são alguns desses problemas.

O atraso nessas e em outras áreas dificulta o crescimento da economia e, sobretudo, a inserção do País na onda de modernização por que passam os sistemas produtivos dos países com os quais o Brasil compete no cenário mundial.