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Começa o debate sobre a reforma sindical

Governo pretende substituir modelo varguista de sindicato único por categoria profissional em cada cidade ou região pelo modelo americano, que aceita a existência de sindicatos por empresa; centrais sindicais se opõem a esse modelo

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Por Notas & Informações
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Os presidentes das principais centrais sindicais do País se reuniram ontem com representantes do Ministério da Economia para discutir a reforma que o governo pretende promover no setor. Embora as diretrizes dessa reforma ainda não tenham sido anunciadas, o governo pretende substituir o modelo varguista de sindicato único por categoria profissional em cada cidade ou região pelo modelo americano, que aceita até mesmo a existência de sindicatos por empresa.

As centrais sindicais se opõem a esse modelo, mas a maioria tem consciência de que a estrutura atual do sindicalismo brasileiro, concebida quando eram outras as condições da economia do País, já se exauriu. Entre outros motivos, porque o desenvolvimento tecnológico extinguiu várias profissões e criou outras.

A economia brasileira também é hoje de tal modo diferenciada, em termos funcionais, que a estrutura sindical não consegue representar os novos profissionais que nela atuam. É o caso dos metalúrgicos do setor aeronáutico. Quase todos têm diploma universitário e suas demandas conflitam com as dos metalúrgicos do setor automobilístico, onde muitos têm apenas o ensino fundamental.

Além disso, com a crescente informatização das linhas de produção, o aumento do desemprego estrutural levou muitos sindicatos a perderem filiados. No setor financeiro, foram extintas 400 mil vagas, entre as décadas de 1990 e 2010. O mesmo ocorreu no setor montador, no qual o número de filiados hoje é bem menor do que o de há três décadas. Atualmente, há no País 17 mil sindicatos. Conjugada com a reforma trabalhista de 2017, que proibiu o desconto da contribuição sindical em folha, o aumento do desemprego estrutural levou muitas entidades ao colapso financeiro.

Para as centrais, a reforma sindical vem em má hora, pois, como os sindicatos estão enfraquecidos, eles não teriam poder de barganha com o governo. Também alegam que o fim da unicidade sindical dificultará a negociação de greves em setores estratégicos da economia. Por mais procedentes que sejam esses argumentos, uma coisa é certa: a estrutura sindical brasileira tem de ser modernizada. Por isso, se não souberem negociar essa reforma de modo responsável com o governo, as centrais sindicais só aumentarão os problemas que já enfrentam e enfraquecerão ainda mais a defesa dos interesses de seus filiados.