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Crise empurra famílias para a inadimplência

Parece provável que as dificuldades se agravarão, antes que a situação comece a melhorar

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Por Notas e Informações
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As facilidades oferecidas pelo governo federal, como o auxílio emergencial, mais crédito e estímulo à renegociação de dívidas, não bastaram para preservar a saúde financeira dos trabalhadores nas primeiras semanas da pandemia do novo coronavírus. Foi o que mostrou a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) de maio da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontando que o porcentual de famílias com dívidas em atraso e sem condições de pagá-las passou de 9,5% em maio de 2019 para 10,6% em maio de 2020. Em relação a abril deste ano, o aumento foi de 0,7 ponto porcentual.

O vilão dos atrasos é – e tem sido há muito tempo – o cartão de crédito, mas também há inadimplência no cheque especial e em cheque pré-datado, carnês de loja, empréstimos pessoais, prestação de carro e seguros. Quanto maior o risco, maior o custo da dívida e maior a inadimplência, como evidencia o cartão de crédito. Mas, nas faixas de menor renda, a proporção das famílias com dívidas em atraso diminuiu de 28,5% em abril para 28,2% em maio. A piora do indicador se deveu às faixas de renda superiores a 10 salários mínimos mensais – ou seja, às classes de renda média, que receberam menos compensações após o mergulho do País na crise sanitária.

Com emprego e renda sob ameaça, as pessoas evitam contrair dívidas. O porcentual de famílias com dívidas diminuiu levemente entre abril e maio, de 66,6% para 66,5%. Mas na comparação com maio de 2019 houve aumento de 3,1 pontos porcentuais. O comportamento das famílias com renda de até 10 salários mínimos foi prudente: o porcentual de famílias endividadas diminuiu de 67,5% em abril para 67,4% em maio. Para as famílias com renda acima de 10 salários mínimos, o porcentual de famílias endividadas caiu mais, de 62,3% do total em abril para 61,3% em maio.

Os especialistas da CNC avaliam os números com cautela. Como diz a economista Izis Ferreira, da CNC: “Mesmo com as incertezas impostas pela pandemia, a inadimplência não mostra trajetória explosiva, pelo menos não ainda. Com medidas de auxílio à renda, como o coronavoucher, as famílias mostram alguma resiliência na quitação de seus compromissos financeiros”. Parece provável que as dificuldades se agravarão, antes que a situação comece a melhorar, talvez no segundo semestre.