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Diferente e pior do que as crises anteriores

Na crise da covid, o desemprego entre os informais cresceu mais do que entre os trabalhadores formais

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Por Notas & Informações
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A pandemia teve impacto sem precedentes na economia e no mercado de trabalho da América Latina e do Caribe. A redução de 7,1% do PIB regional é a mais intensa dos últimos 100 anos. O desemprego chegou ao recorde de 10,5%. Mas nem esses números impressionantes retratam completamente a deterioração do trabalho.

Relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que, por várias facetas inéditas, a crise provocada pela covid-19 é diferente de todas as anteriores, e pior.

Recuperação da economia não parece ser intensa o suficiente para criar vagas que atendam a todos os desempregados. Foto: Werther Santana/Estadão

Dois dos três componentes do mercado de trabalho diminuíram em 2020, o que resultou numa expressão numérica subdimensionada do desemprego. Por diversas razões, muitas pessoas – em sua maioria mulheres – deixaram de procurar emprego e, assim, saíram da força de trabalho. Também deixaram de fazer parte do grupo de desocupados. A redução simultânea da força de trabalho e dos desempregados reduz a taxa de desocupação. Assim, se não tivesse havido esse fenômeno, o índice de desemprego teria sido maior.

Mas nem assim o número de desocupados diminuiu, pois a maior parte dos que perderam emprego no período continuou a procurar uma atividade, mantendo-se, assim, tanto na força de trabalho como no quadro de desocupados. E o desemprego foi mais intenso entre as mulheres, os jovens e os trabalhadores informais.

Há dois aspectos que merecem atenção no estudo. Na crise da pandemia, ao contrário do que se observou nas anteriores, o desemprego entre os informais cresceu mais do que entre os trabalhadores formais. Nas crises anteriores, a perda de emprego formal levava o trabalhador à informalidade. Esse caminho foi interrompido na crise atual.

No caso das mulheres, além das pressões da crise da pandemia sobre seu emprego, novas exigências podem ter forçado parte delas a se dedicar a diversas atividades domésticas, retirando-as do mercado de trabalho. Trata-se de uma inversão na tendência observada há anos, de maior participação feminina no mercado.

Também quanto às exigências de ações públicas a crise trouxe mudanças. Além da preparação da mão de obra, a região precisa de ações concretas para sustentar a renda dos mais necessitados e de investimentos em setores que mais empregam.