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Embaralhamento de dados da balança comercial

Indicadores do comércio exterior começaram a perder nitidez com a inclusão de compras e vendas fictas de plataformas de petróleo que nunca deixaram o território brasileiro

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Por Notas & Informações
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Marcados durante décadas pela exatidão de dados – facilitando a análise de tendências –, os indicadores do comércio exterior começaram a perder nitidez com a inclusão de compras e vendas fictas de plataformas de petróleo que nunca deixaram o território brasileiro. A falta de transparência se agravou, nos últimos meses, com a divulgação de dados incorretos originários do Serpro. Mesmo afastados os erros e as distorções decorrentes de critérios contábeis que dificultam a transparência, porém, os dados mostram que as exportações brasileiras foram insatisfatórias em novembro. A tendência é de queda de exportações e do superávit da balança comercial. Essa tendência merece a atenção das autoridades.

Em novembro, exportações de US$ 17,6 bilhões e importações de US$ 14,2 bilhões resultaram num superávit de US$ 3,4 bilhões, o menor para o mês desde 2015. Após a correção dos dados de setembro e outubro e dos resultados preliminares de novembro, o saldo entre janeiro e novembro, de US$ 41,1 bilhões, foi inferior em cerca de US$ 11 bilhões ao de igual período de 2018.

A média de exportações por dia útil foi de US$ 897,8 milhões, 16,0% inferior à de novembro de 2018. Esta queda se reduz a 8,8% quando se elimina o efeito de uma exportação (fictícia) de plataforma em novembro de 2018. 

Nas exportações, as boas vendas de suco de laranja, têxteis e carnes estão entre as exceções. As importações também pioraram. A média de US$ 708,4 milhões foi inferior em 16,0% à de novembro de 2018, caindo a -3,3% quando se desconsidera a operação com plataforma de petróleo.

As operações fictas distorcem, mas não eliminam, as tendências negativas. Entre novembro de 2018 e novembro de 2019, caíram as vendas de básicos (-9,5%), de semimanufaturados (-9,2%) e de manufaturados (-25,6%). Como as exportações de novembro de 2018 foram infladas pelas vendas fictas, sem estas a queda de manufaturados seria de 8%.

O superávit comercial do ano é estimado por especialistas entre US$ 45 bilhões e US$ 47 bilhões, inferior ao de US$ 58 bilhões em 2018 e de US$ 67 bilhões em 2017. Com o enfraquecimento do comércio global, é provável que o saldo comercial volte a cair em 2020. Isso pode fazer crescer o déficit corrente, de US$ 54,8 bilhões em 12 meses, até outubro, se também este déficit não for recalculado.