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Estrangeiro sai e leva tensão ao mercado de ações

Trata-se da maior saída de capital da bolsa em 23 anos, superando inclusive a de agosto de 2008, durante a crise global que ficou marcada pela quebra do banco norte-americano Lehman Brothers

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Por Redação
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Os estrangeiros são os principais investidores em ações no mercado da bolsa B3, com uma participação, em agosto de 2019, superior a 40% dos negócios, porcentual que chegou a ser maior no ano passado e no primeiro semestre deste ano. É o vulto dessa participação que desperta temor quando se sabe que apenas neste ano foram retirados pelos estrangeiros do mercado acionário brasileiro mais de R$ 20 bilhões, dos quais quase a metade neste mês, conforme os números conhecidos até 16/8.

Trata-se da maior saída de capital da bolsa em 23 anos, superando inclusive a de agosto de 2008, durante a crise global que ficou marcada pela quebra do banco norte-americano Lehman Brothers. É diferente o quadro atual, mas a retirada de investidores externos impõe uma reflexão sobre a situação dos mercados brasileiros na economia global.

Numa perspectiva ampla, está em curso uma fuga de capital de países emergentes para economias desenvolvidas. No Brasil, após um período de valorização das ações, não é estranho que investidores externos realizem lucros e apliquem os recursos em ativos denominados em dólar. A valorização do dólar é um sinal da procura pelos investidores.

O contencioso comercial entre Estados Unidos e China, o aumento do protecionismo e a perspectiva de queda do crescimento global são fatores determinantes da fuga para o dólar. Na América Latina, a situação se agrava com a crise na Argentina, às vésperas de uma eleição em que o peronismo (populista) pode voltar ao poder. 

O Brasil iniciou um programa de reformas, que ajudou a reduzir o risco Brasil. O seguro contra quebra medido pelo CDS é da ordem de 140 pontos, com forte recuo em relação a 2018. Mas isso não basta. Nem o avanço da reforma da Previdência assegurou mais investimentos estrangeiros no Brasil, disse ao Estado o professor do Insper Michel Viriato. A recuperação lenta da atividade torna o País menos atrativo, acrescenta o professor da FGV William Eid Jr.

A saída de estrangeiros é ameaça aos mercados locais, que passam a depender mais dos próprios brasileiros. Na condição de mercado de risco, as ações ficam sujeitas à demanda de fundos locais e de pessoas físicas. Isso poderá retardar novas emissões de ações, pelas quais as empresas buscam se capitalizar sem ter de recorrer aos bancos.