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Famílias estão sem dinheiro para poupar

No primeiro trimestre de 2019, houve saques líquidos de R$ 10,7 bilhões nas cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo

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Por Redação
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O saldo líquido das aplicações em caderneta de poupança foi de apenas R$ 1,85 bilhão em março, dos quais R$ 1,57 bilhão nos agentes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que concentram as aplicações no financiamento à casa própria. No primeiro trimestre de 2019, segundo o último Relatório de Poupança do Banco Central, houve saques líquidos de R$ 10,7 bilhões nas cadernetas do SBPE, resultado pior do que o de igual período do ano passado, com retiradas líquidas de R$ 2,5 bilhões, mas melhor do que o do primeiro trimestre de 2017, quando foram retirados R$ 12,7 bilhões.

Os primeiros trimestres são, sazonalmente, períodos em que se concentram despesas elevadas – e que nem sempre cabem em orçamentos domésticos apertados. Parece indesmentível que isso esteja ocorrendo, de tal sorte que as famílias dispõem de poucos recursos para guardar. Até agora, a situação deste ano é pior que a do ano passado, quando os ingressos líquidos em cadernetas do SBPE em março foram de quase R$ 2,9 bilhões, quase o dobro do verificado em março deste ano.

Dado o ritmo lento da atividade econômica, é improvável que os ingressos líquidos em caderneta atinjam o nível de R$ 27,8 bilhões registrado no ano passado. Mas isso é o que de melhor poderia ocorrer do ponto de vista dos financiados, pois o custo do crédito imobiliário com recursos da poupança é mais baixo.

Por ora, o comportamento das cadernetas não afeta as aplicações de recursos no SBPE, que cresceram cerca de 35% tanto entre os primeiros bimestres de 2018 e de 2019, como nos últimos 12 meses, até fevereiro, comparativamente aos 12 meses anteriores.

Mas seria melhor que as entradas líquidas voltassem a aumentar, para atender à demanda de financiamentos proveniente das classes média e média alta, onde o mercado imobiliário já dá mostras de reação.

O maior obstáculo à expansão dos depósitos de poupança não é a rentabilidade de 0,37% ao mês, pois os fundos de renda fixa também pagam juros baixos aos aplicadores, mas o elevado desemprego, que limita os reajustes reais de salários, ao lado do empobrecimento da população. Entre 2014 e 2017, segundo relatório recente do Banco Mundial, o porcentual de famílias brasileiras em estado de pobreza passou de 17,9% para 21%.