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Inadimplência e dívidas limitam o consumo

Dados do BC relativos ao sistema bancário mostraram que entre dezembro de 2018 e dezembro de 2019 o endividamento das famílias passou de 42,5% da renda em 12 meses para 45,1%

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Por Notas & Informações
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O principal sustentáculo da economia brasileira é o consumo das famílias, mas, apesar dos fatos que empurram o consumo para cima, como a queda do juro e a recuperação do emprego, outros fatores, como o grau de endividamento e a inadimplência, impõem limites a uma retomada expressiva do varejo. Isso, por sua vez, constrange o crescimento econômico, como se conclui de indicadores da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e do Banco Central (BC).

Entre fevereiro de 2019 e fevereiro de 2020, segundo a Pesquisa CNC - Endividamento e Inadimplência do Consumidor, o total de famílias endividadas passou de 61,5% para 65,1%. Em igual período, o porcentual de famílias com dívidas em atraso cresceu de 23,1% para 24,1% e o das que não terão condições de pagar as dívidas foi de 9,2% para 9,7%.

Dados do BC relativos ao sistema bancário mostraram que entre dezembro de 2018 e dezembro de 2019 o endividamento das famílias passou de 42,5% da renda em 12 meses para 45,1%. Ao mesmo tempo, o comprometimento da renda aumentou de 19% para 20,2%. Cresceu a parcela das dívidas imobiliárias, que são de longo prazo, no endividamento total e no comprometimento da renda. Com isso, os recursos destinados ao consumo evoluíram menos do que os destinados a pagar a compra da casa própria, o que também limita o consumo das famílias.

O quadro se agrava no início de cada ano, em razão do crescimento da pressão por gastos com impostos e taxas, matrícula e material escolar, além de reajustes de tarifas e serviços, itens mencionados pela CNC.

O resultado da pressão de gastos no começo do ano é o avanço da inadimplência e do endividamento. Em fevereiro de 2020, declararam-se muito endividadas 15% das famílias pesquisadas, ante 12,3% em fevereiro de 2019. O melhor a esperar é que, passado o período mais agudo de despesas, as famílias possam tomar mais crédito e consumir mais.

Mas isso dependerá da melhora da qualidade do endividamento. Por ora, nada menos que 78,6% das famílias endividadas se valem do cartão de crédito. Pagam, desta forma, juros excessivos sempre que usam essa modalidade de crédito. Juros menores e melhor educação financeira ajudarão a mudar essa situação.