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Na pandemia, todos se erguem juntos ou afundam juntos

Políticas macroeconômicas unilaterais estão condenadas ao fracasso, e os países precisam adotar medidas que promovam a interconectividade global

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Por Notas & Informações
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Os custos imediatos do apagão para cada segmento econômico têm sido atualizados dia a dia. Mas quais seriam seus efeitos multiplicadores, em especial considerando a sua persistência em razão de potenciais novas ondas de contágio e confinamento? E em que medida os desdobramentos numa das regiões globais reverberarão em outras? A partir de um choque inicial estimado entre 2,5% e 5% do PIB global, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) simulou estes “macrotransbordamentos” da pandemia.

O cenário menos severo pondera um choque do tipo V, em que uma única onda de confinamento baste para conter o vírus. Mas, na ausência de vacina ou tratamento, é preciso simular também um choque do tipo W, comportando uma segunda onda, menor, seis meses após a primeira.

No choque V, estima-se uma perda do PIB ao longo de um ano entre 1,5 e 2 vezes maior que o impulso inicial, com declínio concentrado no primeiro semestre e modesta recuperação no segundo. Ainda assim, no final de 2021 o PIB em todas as regiões continuará abaixo de onde estaria sem a pandemia. No choque W, a recuperação só começaria em 2021.

São números sujeitos a variações, seja porque os negócios, artificialmente interrompidos, podem ser retomados mais rapidamente que o usual, seja porque o impacto global pode ter efeitos não lineares, como maior aversão ao risco, inércia do mercado de trabalho ou mudanças nos padrões de consumo.

Mas quanto a retração em cada bloco econômico se deve aos efeitos domésticos da epidemia e quanto é influenciada por condições econômicas estrangeiras? Pelos cálculos do BIS, mesmo que um bloco seja bem-sucedido na contenção do vírus, o influxo das outras regiões será imenso. Em poucas palavras: não há como se salvar sozinho.

Muito além das cifras, a simulação reforça a importância da cooperação internacional na elaboração de políticas de contenção da pandemia. Primeiro, porque confinamentos não coordenados podem levar a reemergências do vírus e choques recorrentes. Depois, porque, mesmo que um país seja eficiente entre suas fronteiras, não há imunidade econômica contra deteriorações em outras partes do planeta. Políticas macroeconômicas unilaterais estão condenadas ao fracasso, e os países precisam adotar confinamentos, controles de fronteiras e estratégias econômicas que internalizem esta interconectividade global.