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No mercado de trabalho, o pior ainda não chegou

Atitudes irresponsáveis de autoridades no combate à pandemia tornam o quadro ainda mais difícil

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Por Notas & Informações
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A lenta evolução do desemprego aferida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) parece em desacordo com a aguda deterioração do mercado de trabalho e das condições de vida das famílias que passaram a abrigar, ou já abrigavam, uma ou mais pessoas sem ocupação remunerada. Entre o trimestre encerrado em abril e o encerrado em maio, a taxa de desocupação cresceu modestamente, de 12,6% para 12,9%. Este último número indica que, no período, havia 12,7 milhões de pessoas desempregadas. Curiosamente, é um número melhor do que o constatado um ano antes (13 milhões de desempregados), quando as condições econômicas do País não eram tão ruins.

Não há, porém, nada de errado nas estatísticas. Há, na realidade, uma piora no mundo do trabalho não necessariamente captada pela taxa de desocupação. O fato de que, de março a maio, 7,8 milhões de pessoas perderam o emprego no País não deixa dúvidas de quanto as coisas pioraram. A população ocupada baixou para 85,9 milhões. É a menor da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012.

Além disso, pela primeira vez, menos da metade da população em idade de trabalhar, ou 49,5%, tinha alguma ocupação. No trimestre anterior o índice estava em 54,5%. Outro dado que aponta na mesma direção é o da população fora do mercado de trabalho, que inclui as pessoas que não estão trabalhando nem procurando emprego, que cresceu 9 milhões entre um trimestre e outro e totalizou 75 milhões de pessoas.

A taxa de subutilização da força de trabalho subiu de 23,5% no trimestre até fevereiro para 27,5% no trimestre encerrado em maio. Essa taxa inclui os desocupados, os subocupados por insuficiência de horas trabalhadas e a força de trabalho potencial, formada por pessoas que não estão procurando emprego, mas estão disponíveis para trabalhar.

A confirmação, por um comitê de economistas vinculado à Fundação Getúlio Vargas, de que o Brasil entrou em recessão no primeiro trimestre e de que a recuperação será lenta indica que o pior talvez ainda esteja por vir para o mercado de trabalho. São muitas as incertezas sobre quando e como a recuperação econômica se apresentará. Atitudes irresponsáveis de autoridades no combate à pandemia tornam o quadro ainda mais difícil.