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O que limita a retomada do setor de imóveis

A redução de juros do crédito imobiliário é fator decisivo para preservar o mercado

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Por Notas & Informações
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Há dinheiro sobrando para conceder empréstimos, taxas de juros mais favoráveis e percepção da necessidade das famílias de adquirir a casa própria. Falta, no entanto, a confiança dos trabalhadores na manutenção do emprego e da renda, pois as operações de crédito imobiliário, em geral indispensáveis para permitir a aquisição desse bem de alto valor, são de prazo muito longo (até 35 anos) – e o mutuário precisa avaliar se terá capacidade de honrar a dívida. Em síntese, é do que trata a ampla reportagem de Douglas Gavras publicada no Estado de 17/8, mostrando que, em contraste com as dúvidas de famílias e de incorporadores, há indicadores positivos sobre o mercado imobiliário.

A projeção mais relevante quanto ao comportamento do setor imobiliário em 2020 vem da coordenadora da Sondagem da Construção da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), Ana Maria Castelo. Em entrevista publicada no site da FGV Ibre, ela estima que, enquanto a queda do Produto Interno Bruto (PIB) deverá ser da ordem de 5,5% neste ano, o PIB da construção civil cairá 4,1%. “Nas praças mais aquecidas, como São Paulo, Brasília e Goiás, a resposta de parte da demanda resistiu à obrigatoriedade do fechamento de estandes de vendas de novos projetos, com compras através de atendimento online”, afirma Ana. O argumento é confirmado pelo presidente do SecoviSP, Basílio Jafet, ao mostrar que as vendas de imóveis novos em São Paulo recuaram apenas 14% entre o primeiro semestre de 2019, quando o mercado estava muito aquecido, e o primeiro semestre de 2020. Falta acrescentar que, apesar desse desempenho expressivo, os incorporadores têm agido com cautela: muitos adiam lançamentos, temendo a falta de demanda.

Na reportagem do Estado fica evidente que o mercado se manteve ativo por conta de negociações frequentes entre compradores e vendedores. Para concluir as vendas, muitas empresas deram descontos e vantagens aos mutuários. O objetivo é não perder clientes num momento de grandes dificuldades para a maioria dos setores econômicos, que ainda enfrenta as consequências da pandemia do novo coronavírus.

A redução de juros do crédito imobiliário é fator decisivo para preservar o mercado. E, ante a sobra de recursos nas cadernetas, parece haver espaço para novas quedas do juro.