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Os mais pobres têm inadimplência e dívida maiores

Endividamento entre as famílias com renda abaixo de 10 salários mínimos alcançou o recorde histórico de 69% em julho

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Por Notas & Informações
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A fatia de famílias com dívidas aumentou em julho e alcançou o maior porcentual da pesquisa feita desde o início de 2010 pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Das famílias entrevistadas, 67,4% informaram ter dívidas com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro ou de casa. O porcentual de famílias com dívidas ou contas em atraso também é recorde (de 26,3%, ante 23,9% um ano antes).

A variação em relação a junho, de 0,3 ponto porcentual, é pequena, mas mostra a persistência da tendência de crescimento da dívida, observada desde fevereiro, sobretudo para as famílias de renda inferior a 10 salários mínimos.

A crise sanitária ainda leva as famílias a buscar recursos para cobrir seus compromissos. Entre os efeitos da pandemia estão fatores que estimulam o endividamento, como o aumento do desemprego, a redução da renda média, a maior oferta de crédito e a redução dos juros.

Há uma diferença nítida no comportamento das famílias quanto ao endividamento, de acordo com a faixa de renda. Entre as de renda abaixo de 10 salários mínimos, o porcentual alcançou o recorde histórico de 69,0% em julho (ante 68,2% em junho e 65,4% um ano antes). Já entre as famílias com renda superior a 10 salários mínimos, a proporção das endividadas caiu de 60,7% para 59,1% de junho para julho. Isso significa que essas famílias estão podendo poupar mais.

Também o porcentual de famílias com dívidas ou contas em atraso aumentou entre as de menor renda (de 28,6% para 29,7% de junho para julho) e diminuiu (discretamente, de 11,3% para 11,2% de um mês para outro) nas famílias de renda mais alta.

Uma tendência que igualmente vem se mantendo há meses é a de aumento do tempo médio de comprometimento com dívidas entre as famílias endividadas, que chegou a 7,4 meses em julho. É indicação de que as famílias estão procurando trocar dívidas com vencimentos mais curtos por mais longos e, assim, facilitar os pagamentos em dia, observa a CNC.

Um dado preocupante é a permanência do cartão de crédito como principal modalidade de dívida entre as famílias endividadas (76,2%), pois essa é uma das mais caras formas de crédito.