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País deve priorizar agenda de reindustrialização

Se os problemas não forem enfrentados, economia nacional pode ser condenada à dependência da agropecuária e da mineração

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Por Notas & Informações
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O choque da pandemia sobre a indústria foi relativamente menor do que em outros segmentos. Mas o setor foi o mais castigado pela recessão de 2015-2016 e já estava estagnado há uma década.

Dados levantados pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) com base em estatísticas da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido) mostram que entre 2005 e 2020 a indústria brasileira recuou da 9.ª maior do mundo para a 14.ª, e sua participação na indústria mundial caiu quase pela metade, de 2,2% para 1,3%.

No Brasil, a participação da indústria no PIB (que chegou a 26% no final dos anos 80) encolheu de 12,4% para 9,9% na última década Foto: Agência Brasil

Na última década não houve sinais de desindustrialização nem no mundo, onde, segundo a Unido, a participação da indústria no PIB se manteve em 16%, nem nos países em desenvolvimento, onde essa participação subiu de 20% para 20,6%. No Brasil, a participação da indústria no PIB (que chegou a 26% no final dos anos 80) encolheu de 12,4% para 9,9%.

O Iedi adverte que os países avançados dão sinais de querer se reindustrializar, e a pandemia pode acelerar reconfigurações das cadeias de valor na busca por resiliência, tornando-as mais regionalizadas, com o risco de apartar ainda mais o Brasil das cadeias industriais mais dinâmicas.

Uma agenda de reindustrialização deveria ser prioridade nacional e entrar com força na disputa eleitoral de 2022.

Arrancar pela raiz as causas do “custo Brasil” – como disfuncionalidade tributária, infraestrutura precária, burocracia excessiva, insegurança jurídica, financiamento escasso, serviços públicos ineficientes, instabilidade fiscal, má formação, protecionismo – é precondição.

Mas a retomada da competitividade dependerá de investimentos em inovação, tecnologia, capacitação e pesquisa, conforme a receita de países emergentes hoje nas vanguardas da 4.ª Revolução Industrial, como China, Coreia ou Cingapura.

O Brasil ainda tem o maior parque industrial no Hemisfério Sul e a regionalização da dinâmica global pode servir à indústria nacional, se se conseguir criar cadeias de valor agregado com nossos vizinhos na América do Sul e atrair empresas da América do Norte e da Europa reticentes ante eventuais rupturas com as cadeias asiáticas.

Uma agenda de modernização da indústria não é uma opção macroeconômica entre outras. Se os problemas não forem enfrentados, os danos podem se tornar irreversíveis e a economia nacional pode ser condenada à dependência da agropecuária e da mineração.