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Produtividade mais difícil na pandemia

A OIT adverte que o aumento das desigualdades decorrente da covid-19 pode deixar legados como mais pobreza e instabilidade social e econômica, que 'podem ser devastadores'

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Por Editorial Econômico
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Como era previsível, os salários diminuíram ou cresceram menos no primeiro semestre de 2020, como mostrou a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em seu Relatório Mundial de Salários 2020/2. Visto desse modo amplo, a pandemia de covid-19 não parece ter sido tão danosa para os trabalhadores.

Mas, em cerca de dois terços dos países, a crise continuará a pressionar para baixo os salários. Pior ainda, o eventual aumento da remuneração média em muitos países decorreu em grande parte da demissão em muito maior número dos trabalhadores que ganham menos.

Os trabalhadores de menor renda, em média, tiveram perda de remuneração muito mais acentuada do que a observada em faixas mais elevadas de renda. Os 50% dos trabalhadores com renda mais baixa tiveram perdas estimadas em 17,3% de seus salários por causa da pandemia. E teriam perdido ainda mais se muitos governos não tivessem adotado políticas de benefícios extraordinários para atender a essa faixa da população. A OIT adverte que o aumento das desigualdades decorrente da covid-19 pode deixar legados como mais pobreza e instabilidade social e econômica, que “podem ser devastadores”.

Um dos caminhos para evitar esses efeitos ou, no mínimo, mitigá-los é o aumento significativo e prolongado da produtividade. Esta é a única forma de assegurar crescimento sustentável dos salários e a melhora constante das condições de vida da população. Mas muitos países vêm perdendo a luta pela produtividade e por ganhos de competitividade.

O Brasil está nesse caso. É um dos 7 entre 31 países das Américas que registraram queda de produtividade do trabalho entre 2010 e 2019. Dos países com maior peso na economia americana, apenas a Argentina teve perda de produtividade no período.

O relatório da OIT deixa clara a relação entre baixa produtividade e informalidade. A escolaridade dos proprietários e empregados de empresas informais é menor do que a do segmento formal. As empresas informais têm mais dificuldade de acesso a crédito e a novas tecnologias, o que tende a perpetuar sua condição de menos produtivas que as formais.

A pandemia pode tornar ainda mais difícil o ganho de produtividade em países que têm problemas estruturais – baixa qualidade de educação, por exemplo – para alcançá-lo.