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Saldo comercial recorde se deve à economia retraída

Há pouco a comemorar com o fato de que o saldo comercial tenha sido positivo em US$ 54,5 bilhões em 12 meses

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Por Notas & Informações
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A fraqueza das importações, que caíram 25,5% entre setembro de 2019 e setembro de 2020 e 14% entre os primeiros três trimestres do ano passado e deste ano, é a principal explicação para que o superávit da balança comercial de setembro tenha se aproximado dos US$ 6,2 bilhões e atingido novo recorde histórico. Para que o superávit crescesse, nas mesmas bases de comparação as exportações diminuíram muito menos: 9,1% e 7%, o que também indica mau desempenho.

Há, portanto, pouco a comemorar com o fato de que o saldo comercial (diferença entre exportações e importações) tenha sido positivo em US$ 42,4 bilhões entre janeiro e setembro de 2020 e em US$ 54,5 bilhões em 12 meses. Para este ano se estima que o saldo poderá ficar entre US$ 55 bilhões e US$ 60 bilhões, superando com folga o superávit de US$ 48 bilhões do ano passado.

A principal consequência positiva do superávit elevado previsto para este ano é a melhora continuada da conta corrente do balanço de pagamentos, que ajuda a atenuar os efeitos negativos da desconfiança dos investidores externos na política econômica brasileira, em especial no que diz respeito à incapacidade de o governo Bolsonaro dar sinais favoráveis sobre a administração das contas públicas a partir de 2021.

O aspecto mais negativo é o de que o comércio exterior brasileiro mostra um forte declínio da corrente de comércio (soma de exportações e importações), de mais de 10% nas comparações em 12 meses e entre os primeiros 9 meses de 2019 e de 2020 e de um porcentual muito maior (16,4%) entre os meses de setembro do ano passado e deste ano. Em 12 meses, a corrente de comércio diminuiu mais de US$ 40 bilhões, para US$ 370,7 bilhões, o que revela um perigoso afastamento da economia brasileira em relação à economia global.

A nota do Ministério da Economia mostra que o setor agropecuário continuou sendo o grande responsável pelo superávit e o único que mostra aumento de exportações (+16%) entre os primeiros três trimestres de 2019 e de 2020. O pior indicador é o da indústria de transformação, cujas exportações caíram 14,9% no período.

A volatilidade do dólar contribuiu, segundo especialistas, para o comportamento fraco das vendas na segunda quinzena de setembro. Essa volatilidade torna mais difíceis as decisões dos exportadores.