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Saque da poupança revela os apuros das famílias

Aplicadores precisaram pagar outras despesas ou quitar dívidas com juro elevado

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Por Redação
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As cadernetas de poupança sofreram saques líquidos de R$ 4 bilhões em fevereiro, dos quais R$ 2,8 bilhões dos agentes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), cujos recursos são aplicados, majoritariamente, no financiamento da casa própria. Outro R$ 1,19 bilhão saiu da chamada poupança rural, captada principalmente pelo Banco do Brasil.

Mais do que o risco de que venham a faltar, nos próximos meses, recursos para o crédito imobiliário, as retiradas indicam que os aplicadores em depósitos de poupança precisaram pagar outras despesas ou quitar dívidas com juro elevado e usaram os meios mais fáceis à disposição. Afinal, não é preciso sequer dar uma ordem ao gerente para sacar da caderneta, bastando digitar uma senha ao telefonar para o banco. O comportamento da poupança foi o pior para um mês de fevereiro desde 2016, segundo o Banco Central (BC).

Com rendimento mensal inferior a 0,4% e anual que não chega a 4,5%, a caderneta de poupança se destina principalmente a proteger os recursos da inflação, pois o juro real anual não chega a 1%. Só é competitiva com fundos de renda fixa que cobram taxas elevadas de administração, em geral, de clientes com poucos recursos ou cuja educação financeira é insuficiente.

As retiradas das cadernetas coincidem com uma redução dos níveis de inadimplência, registrada tanto nos levantamentos do Banco Central como nos de associações de classe.

Não há sinais, até agora, de que os saques dos depósitos de poupança afetem as liberações de crédito. No SBPE, os empréstimos cresceram 15,8% entre dezembro e janeiro e 32,2% entre janeiro de 2018 e janeiro de 2019, atingindo R$ 58,6 bilhões em 12 meses, até janeiro último. Foi o melhor resultado em três anos. Também cresceu o número de imóveis financiados: 26% entre janeiro de 2018 e janeiro de 2019 e mais de 30% nos últimos 12 meses, na comparação com os 12 meses anteriores.

O saldo de R$ 610 bilhões no SBPE, mais o retorno das operações, permitirá manter a oferta de crédito imobiliário nos próximos meses. A questão é que a demanda de crédito tende a subir, exigindo recursos disponíveis. Se faltarem recursos nas cadernetas, os bancos terão de se valer de outros instrumentos, eventualmente mais caros. Daí a importância de retomar a captação positiva das cadernetas.

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