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Opinião|Reação paulista ao uso das drogas

Não se trata só de um dano só para o viciado, mas também para a sociedade

Atualização:

Na mesma linha liberalizante que se registra nos Estados Unidos, onde cada vez mais a maconha pode ser vendida e adquirida livremente, tramita em nosso Congresso Nacional um projeto de lei que libera completamente a droga para todos os fins, incluídos os medicinais. Contrariamente a esse pulo no despenhadeiro, ganha força em São Paulo um movimento voltado para a defesa “desse verdadeiro assassinato do futuro de nossos jovens, a ser consumado com a liberação das drogas”. É o que diz a Frente Nacional Contra a Liberação da Maconha e da Cocaína, organização apartidária e sem fins políticos, que tem entre seus entusiastas o advogado e deputado Campos Machado, o qual vem martelando nos ouvidos dos congressistas para que não se deixem seduzir pelos enganos na maconha e da cocaína.

Como está prestes a ser votado no Congresso Nacional o substitutivo ao PL 399/2015, de autoria do deputado Paulo Teixeira, do PT, liberando o uso da maconha, tornou-se mais vivo o sentimento contrário existente na Assembleia Legislativa de São Paulo, que em moção aos congressistas prega sua rejeição, ao fundamento de que seria um risco muito grande para as famílias e para o País.

A despeito de a maconha ter vez ou outra servido para finalidades medicinais, o seu uso recreativo, sobretudo entre jovens, abre caminho para uma perigosa caminhada em vício de difícil controle. Milhares de pessoas repetem que a maconha não vicia ninguém, mas, como continuam fumando, com essa conduta desmentem a si próprios.

O lado pior da maconha está em abrir caminho para drogas mais fulminantes, como a cocaína e a heroína. Isso no terreno unicamente do vício, porque sob o aspecto criminal muitas vezes o uso de drogas empurra o viciado para o caminho do crime.

Experientes policiais de São Paulo, com mais de 30 anos de carreira, apontam que a droga está na raiz de cerca de 80% dos crimes – e isso quer dizer que se não houvesse o vício haveria muito menos crimes. O adolescente com arma na mão que assalta para obter dinheiro não está agindo para comprar uma roupa nova ou jantar com a namorada. Ele quer dinheiro para pagar ao traficante, porque, se não lhe pagar, não terá mais a droga e ainda poderá ser morto.

Sempre se alega que a maconha, se for plantada e vendida livremente, ajudará a reduzir a criminalidade, porque deixariam de existir as “bocas de fumo”. Realmente, poderia haver influência no tráfico da droga, mas o seu uso contínuo, sobretudo entre os jovens, potencializa fraquezas e provoca carências emocionais e de autoestima. Enfim, não é um dano só para o viciado, mas também para a sociedade.

É muito comum os pais não perceberem que o baixo desempenho escolar, a depressão e a ansiedade dos filhos estão vinculados ao uso das drogas ou à carência delas. O uso da maconha provoca passageira euforia, mudanças de humor, pupilas dilatadas, boca seca e aumento do apetite.

É também comum o namorado viciar a namorada, ou vice-versa, como também alguém começar a usar a droga para ser aceito na turma, ou dela depender para ter coragem de se aproximar do sexo oposto e dizer “te amo”. A capacidade de atenção fica diminuída, a mudança de valores e de aceitação da realidade doméstica diminui e, enfim, o recém-usuário passa a ser um drogado. Daí para uma droga mais forte, sobretudo a cocaína, é um passo.

As estatísticas assustam, por mostrarem que 9% dos que experimentam maconha se tornam dependentes e entre os que fazem uso diário a dependência é de 25% a 50%, segundo estudo de pesquisadores publicado no The New England Journal of Medicine. Os adolescentes costumam apresentar duas a quatro vezes mais sintomas de dependência do que os que começaram a fumar já adultos.

Tal circunstância reforça a necessidade de pais, mães, avós e irmãos acompanharem com mais atenção a conduta de adolescentes vulneráveis. É fundamental evitar que os jovens, mais do que os adultos, corram o risco de um vício que pode conduzir ao abismo, concorrendo muitas vezes para destroçar famílias.

O uso regular da maconha concorre para gerar crises de ansiedade, depressão e até psicoses, embora os fumantes se defendam com a alegação de que esses sintomas são da pessoa, não consequência da droga. O efeito mais sentido pelo usuário é a discriminação imposta a si próprio, por saber muitas vezes em sociedade que está isolado na sua escolha.

No Uruguai a maconha passou a ser livremente plantada, mas a venda é feita em farmácias, sob supervisão oficial, assim como se fosse um remédio, em pequenas doses. Os uruguaios demonstraram melhor juízo do que os americanos, porque nos EUA a liberdade para comercialização tem sido cada vez maior. Nós sempre tivemos forte influência do estilo americano de vida e isso, é claro, também influi entre políticos e civis. Daí a preocupação com o projeto de lei que o Congresso Nacional está votando para liberação da maconha.

DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TJSP, FOI SECRETÁRIO DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. E-MAIL: ALOISIO.PARANA@GMAIL.COM

Opinião por Aloísio de Toledo Cesar