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Opinião|Uma luz no combate às drogas

Estado de São Paulo vai desenvolver nas escolas conscientização dos jovens sobre seus riscos

Atualização:

É muito triste, além de assustador, reconhecer que o Brasil é um dos principais mercados de consumo de drogas no mundo, em especial as regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro. O seu consumo é especialmente trágico porque financia a violência e o crime.

Como se trata de um problema infiltrado em todas as sociedades de nosso tempo, acaba desestruturando as famílias e tirando do bom caminho um número crescente de jovens, que se iniciam no uso das drogas geralmente nas escolas e de forma cada vez mais prematura.

Torna-se revoltante, nesse quadro, a circunstância de ainda não ter havido em nível nacional o necessário trabalho preventivo, que ensine já nas escolas como agir para que os jovens saibam se defender do assédio dos traficantes e se manter íntegros e impermeáveis às ofertas.

Diferentemente da acomodação e da ausência de maior luta no combate às drogas, uma pequena luz de esperança se anuncia agora no Estado de São Paulo, com o trabalho que as Secretarias da Justiça e da Educação passarão a desenvolver nas escolas públicas e particulares, com o propósito de ensinar e conscientizar os jovens não apenas sobre o que é o mundo das drogas, mas como agir para não se deixar envolver.

A determinação para levar avante esse programa partiu do próprio governador João Doria e ambiciona cristalizar-se definitivamente, como algo perene e necessário. Sucessivas reuniões de administradores e especialistas, no Palácio dos Bandeirantes, passaram a traçar o plano de proteção aos jovens, que poderá entrar em funcionamento concomitantemente com o início das aulas, depois do carnaval.

Além da família, quem mais tem contato com os jovens são os professores, por isso será necessário que eles se conscientizem da necessidade de, durante as aulas, alertar e insistir quanto ao risco e degradação que deriva do uso das drogas. Policiais civis e militares com experiência também deverão participar desse trabalho de doutrinação.

O novo secretário de Justiça, Paulo Dimas Mascaretti, teve longa carreira como juiz e desembargador – foi até presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo – e vai aliar sua experiência aos conhecimentos técnicos do novo secretário da Educação, Rossieli Soares, para que as duas pastas desenvolvam em parceria o trabalho de doutrinação referido.

O fato de o Estado de São Paulo assumir essa postura de enfrentamento às drogas o põe em sintonia com a Organização das Nações Unidas (ONU), que chegou a fixar o dia 25 de junho como o Dia Internacional de Combate às Drogas. De acordo com a ONU, cerca de 5% da população mundial entre 15 e 64 anos de idade usa drogas ilícitas e nocivas à saúde. Enfim, cerca de 27 milhões de pessoas são usuárias e convivem com os distúrbios decorrentes da dependência.

Neste momento de grande insegurança que todos vivemos, tornou-se praticamente impossível crescer no Brasil sem ficar exposto ao risco da violência que nasce do consumo de drogas. Por isso mesmo é fundamental que cheguem aos jovens, em tempo e repetidamente, informações honestas sobre os males por elas causados.

As pesquisas demonstram que os adolescentes começam a usar droga, em primeiro lugar, pela pressão dos amigos, para serem “legais” e populares. Quem percebe isso com rapidez é o traficante, habilidoso na arte de se aproximar e se mostrar pronto para “ajuda-lo”, para “fazê-lo feliz”, sempre repetindo que maconha não faz mal algum e que é até “bom”, porque evita o uso de drogas mais pesadas.

O uso da maconha é realmente o primeiro degrau de uma escada que só tem degraus para baixo. Por ela o jovem desce e, prisioneiro de sua ingenuidade, passa a viver também a atração de novas drogas, sempre perigosas e causadoras de dependência. A toda hora ouvimos que a maconha não vicia e não faz mal, embora sejam evidentes os casos de pessoas que fumam há décadas e repitam que não são viciadas. Essa afirmação é realmente paradoxal, porque, se não são viciadas, por que fumam há tanto tempo?

Em verdade, o uso da maconha apresenta para o usuário graves consequências, sobretudo no relacionamento social, segregando-o e levando-o a conviver cada vez mais com pessoas iguais, além dos traficantes. Já dependentes das drogas, afastam-se dos que não caíram nesse abismo e por isso mesmo passam a ter uma visão do mundo e da vida em sociedade quase sempre diversa da que tiveram no lar.

Lamentavelmente, o uso e a dependência das drogas se converteram em grave problema de saúde pública, basta lembrar o que acontece nas áreas necrosadas de São Paulo envolvendo os viciados em crack. Conforme dizem os médicos, a dependência começa quando o usuário se torna escravo do prazer enganoso, que tem efeitos no cérebro em curto e longo prazos.

Dificilmente um viciado consegue deixar as drogas por vontade própria, tornando-se indispensável o tratamento médico e hospitalar, circunstância que indica com clareza a necessidade de esclarecer os jovens quanto à importância de não seguir por esse caminho. Nosso país possui um enorme litoral e milhares de quilômetros de fronteira com os países produtores de maconha e cocaína. Se a droga for produzida, o traficante sempre encontra uma forma de torná-la disponível nos centros de consumo.

É intrigante que os governos desses países e o Brasil ainda não tenham idealizado uma ação conjunta que impeça efetivamente a produção da droga. Nestes tempos de enorme desenvolvimento tecnológico, em que os satélites conseguem enxergar e fotografar pequenos objetos num campo de futebol, não dá para entender como essa capacidade técnica não é usada para identificar as áreas plantadas para produção de drogas.

*DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TJSP, FOI SECRETÁRIO DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. E-MAIL: ALOISIO.PARANA@GMAIL.COM