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A ameaça tecnológica

Um ciberataque sem precedentes assustou a comunidade internacional na última sexta-feira e continua a gerar apreensão pela possibilidade de produzir novos danos, ainda que, por ora, a situação esteja mais controlada

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Por Redação
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Um ciberataque sem precedentes assustou a comunidade internacional na última sexta-feira e continua a gerar apreensão pela possibilidade de produzir novos danos, ainda que, por ora, a situação esteja mais controlada. Segundo levantamento feito pelo Serviço Europeu de Polícia (Europol), mais de 200 mil organizações – governamentais, empresariais, acadêmicas e hospitalares, entre outras –, em cerca de 150 países, tiveram seus servidores invadidos por hackers. O número de vítimas pode ser ainda maior, porque muitas daquelas organizações utilizam versões piratas de seus sistemas operacionais, dificultando o rastreamento.

Este tipo de ataque cibernético – conhecido como ransomware – não é novo. Por meio de um arquivo fraudulento instalado nos computadores dos usuários – que podem abri-lo desavisadamente em um e-mail recebido, por exemplo –, os hackers bloqueiam o acesso a dados sensíveis para seus donos, que são surpreendidos por uma mensagem exigindo o pagamento de um resgate para recuperá-los. Em geral, estes resgates são pedidos em bitcoin, uma moeda virtual cotada em cerca de R$ 5.500,00. Até o momento, os criminosos conseguiram extorquir cerca de US$ 70 mil – aproximadamente R$ 220 mil – de algumas de suas vítimas, de acordo com apuração da agência de notícias Reuters.

O ineditismo da invasão na semana passada, denominada WannaCry, está na escala global das organizações afetadas e, sobretudo, na velocidade de propagação do vírus que permitiu o acesso indevido aos servidores. “Realizamos operações contra 200 ciberataques por ano, mas nunca havíamos visto algo assim”, declarou o diretor da Europol, o britânico Rob Wainwright. Segundo Fabio Assolini, analista de segurança sênior da Kaspersky Lab, empresa especializada em antivírus, isso ocorreu porque o tipo de malware usado agora é o primeiro a replicar cópias de si mesmo em uma rede local, infectando rapidamente várias máquinas a ela conectadas.

O ciberataque começou na Espanha, afetando empresas de telecomunicações, bancos e seguradoras, e rapidamente chegou ao Reino Unido, atingindo em cheio o Serviço Nacional de Saúde (NHS). Diversos procedimentos médicos precisaram ser cancelados. Nenhum país, entretanto, foi tão afetado quanto a China e a Rússia, onde a principal agência de investigação criminal foi atacada.

No Brasil, de acordo com apuração do Estado, diversos órgãos do governo federal foram afetados, entre eles o Itamaraty, o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, o Ministério do Trabalho e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Além das entidades públicas, diversas empresas também relataram problemas da mesma natureza.

Ainda não é possível determinar a autoria do ciberataque. Suspeita-se de um grupo de hackers conhecido como Shadow Brokers, que em abril conseguiu a proeza de invadir a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), ocasião em que pode ter roubado a tecnologia usada pela agência para suas operações de espionagem e que, agora, permitiu a invasão WannaCry.

Está-se diante de um ataque cibernético sem paralelos. Portanto, é justa a apreensão. A tecnologia tem sido o motor de desenvolvimento da espécie humana desde tempos imemoriais. Se antes assombrava pela magnitude dos feitos inovadores – que cada vez mais contribuíram para estender os limites das habilidades do Homem –, agora assusta pelo domínio de seus mecanismos por operadores inescrupulosos e grupos criminosos. Entretanto, para cada ataque bem-sucedido – independentemente da gravidade e da escala de alcance – milhares de tentativas de invasões criminosas são evitadas todos os dias pelos serviços de segurança da informação de governos e empresas no mundo inteiro. É possível afirmar que o ambiente virtual, em geral, é seguro. Mas o crime – como sempre – estará sempre um passo à frente de seu anteparo. Caberá aos especialistas desenvolverem contenções cada vez mais rápidas aos novos ataques.