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A animadora prévia do PIB

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Por Redação
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Sinais vitais da economia continuam melhorando, embora a atividade continue muito abaixo do ritmo do ano passado e bem distante do observado em 2014, último ano do desastroso primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Dois novos informes animadores – embora insuficientes para indicar o fim da recessão – foram divulgados na sexta-feira passada. O primeiro, de fonte oficial, é considerado no mercado financeiro uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), incompleta, mas suficiente como sinalização de tendência. O índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) subiu 0,23% de maio para junho, depois de ter caído 0,45% no mês anterior. A média do segundo trimestre foi 0,53% inferior à do primeiro, mas a queda havia sido bem maior dos três meses finais de 2015 para os três primeiros de 2016. De janeiro a março deste ano, a atividade foi em média 1,45% menor que a de outubro a dezembro do ano passado. Estes números são da série com ajustes sazonais.

É cedo para abrir champanhe, mas esses dados parecem confirmar uma tendência à estabilização. Só mais tarde se poderá dizer se a economia bateu no fundo do poço ou, ainda melhor, se a recuperação começou. O mero retorno aos padrões anteriores à recessão deverá tomar um bom tempo. No segundo trimestre, o IBC-Br ainda ficou 4,37% abaixo da média de abril a junho do ano passado, na série sem ajuste. Em 12 meses, a queda acumulada bateu em 5,60%. Depois de voltar ao nível de um ano antes, ainda faltará o percurso até o de 2014, quando a queda começou.

O outro informe positivo foi publicado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em seu Monitor do PIB. Os dados, nesse relatório, são até mais animadores que os do IBC-Br, com crescimento de 0,47% de maio para junho e produção no segundo trimestre 0,2% inferior à do primeiro. Entre abril e junho, a atividade foi 3,5% mais baixa que no período correspondente de 2015. A indústria, embora com produção 3,5% menor que a do segundo trimestre do ano anterior, teve um desempenho melhor que o dos trimestres móveis anteriores, neste ano. Em 12 meses, o PIB, de acordo com os cálculos da FGV, acumulou uma redução de 4,8%, já observada nos períodos de 12 meses até abril e maio.

Divulgado com mais detalhes que os do IBC-Br, o Monitor mostrou dados menos negativos – embora ainda muito ruins – de um componente especialmente importante, o valor investido em máquinas, equipamentos e obras. Nas contas nacionais, esse item aparece como formação bruta de capital fixo. No segundo trimestre, essa variável foi 8,8% menor que entre abril e junho de 2015. O dado de junho ficou 1,2% abaixo do contabilizado um ano antes. São os números menos negativos desse componente desde o início de 2016.

Os números setoriais divulgados até agora pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também mostram alguns sinais positivos – ou menos negativos – na atividade industrial e no investimento produtivo. Por esses dados, a distância até os níveis pré-recessão continua muito ampla, mas indícios de estabilização começam a aparecer.

As contas nacionais do segundo trimestre devem ser publicadas pelo IBGE no fim de agosto. Pelos dados conhecidos até agora, a recessão deve ter continuado no período de abril a junho. Mesmo com alguma reação até o fim do ano, o PIB de 2016 deve ser inferior ao de 2015, segundo as projeções já publicadas. Pelas estimativas coletadas pelo Banco Central no mercado, e divulgadas na semana passada, o PIB deve diminuir 3,23% neste ano. O próprio Banco Central apresentou em julho uma previsão de queda de 3,3%.

A enorme capacidade ociosa da indústria poderá facilitar a retomada do crescimento, a partir de algum impulso inicial. Mas esse impulso dependerá de aumento de confiança de empresários e consumidores. A continuação da retomada só ocorrerá com mais investimento. A senha esperada para o começo da grande mudança é, por enquanto, o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff.