14 de março de 2014 | 02h08
A escalação dos times já evidencia a vantagem argentina. Seus negociadores, segundo informou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, serão o ministro da Economia, Axel Kicillof; a da Indústria, Débora Giorgi; o chefe do Gabinete de Ministros, Jorge Capitanich; e o secretário de Comércio, Augusto Costa. Representarão o Brasil o recém-nomeado ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, e o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.
O protecionismo argentino, tudo indica, está fora da pauta brasileira - pelo menos de uma pauta séria de conversações bilaterais. Se houver referência ao assunto, será apenas para efeito retórico e para constar oficialmente. O governo brasileiro engoliu sem muita resistência todos os entraves comerciais criados pela Casa Rosada nos últimos dez anos. Também aceitou todos os obstáculos impostos pelos parceiros argentinos às negociações do Mercosul com a União Europeia. Será uma enorme surpresa se o ministro Mauro Borges ensaiar algo diferente nesta reunião. Além disso, qualquer tentativa de endurecer o jogo dependerá da aprovação do assessor presidencial.
O assessor Marco Aurélio Garcia foi um dos mentores do desastroso terceiro-mundismo seguido pelo Itamaraty a partir de 2003 e também do apoio e do estímulo ao bolivarianismo. Sua permanência no Palácio do Planalto comprova a fidelidade da presidente Dilma Rousseff às concepções de política internacional do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa fidelidade acaba de ser comprovada também pela manobra, nos últimos dias, para envolver na crise da Venezuela a bolivariana Unasul e afastar a Organização dos Estados Americanos (OEA).
Segundo as fontes citadas pelo Broadcast, o governo argentino terá de continuar administrando o comércio para preservar postos de trabalho e proteger a indústria nacional. Qualquer outro governo poderia citar os mesmos objetivos para justificar ações protecionistas - se essas ações fossem justificáveis. Não são. Combinam mal com as normas do comércio no mundo contemporâneo e são ainda menos aceitáveis no interior de uma união aduaneira - status oficial do Mercosul.
Mas o governo petista aceita as justificativas argentinas como se os interesses da indústria brasileira e de seus empregados fossem menos importantes. Nem na Argentina, no entanto, os danos causados ao comércio brasileiro são ignorados. Números da consultoria Pesquisas Econômicas Internacionais, de Buenos Aires, mostram como o protecionismo argentino deslocou para outros fornecedores, especialmente chineses, segmentos de mercado antes supridos pela indústria brasileira. Exemplo: a participação do Brasil no mercado argentino de têxteis caiu de 25,4% para 22,9% em 2013, enquanto a dos asiáticos subiu de 45% para 49%.
Em prazo mais longo as perdas têm sido bem maiores, para várias indústrias - e sempre ligadas à imposição de barreiras. No terceiro-mundismo petista, a conta da solidariedade fica sempre para o Brasil, de forma proporcional à infantilidade ideológica da política externa.
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