
16 de abril de 2011 | 00h00
Mas, mesmo não compartilhando interesses estratégicos, econômicos ou mesmo comerciais - na verdade, há mais pontos de divergência do que de convergência nas políticas dos quatro países -, os respectivos governos viram na propagação do termo, como se fosse o nome de um bloco efetivo, uma oportunidade de aumentar a frequência das aparições de seus países nos palcos planetários. E assim formaram um clube cuja finalidade primeira seria a de aumentar a participação ou o ingresso dos seus sócios em outros clubes já consagrados. Essa pelo menos tem sido a tônica dos três encontros mantidos pelos chefes de Estado do agora quinteto. No último, que acabou de se realizar em Sanya, na ilha chinesa de Hainan, consumou-se a admissão da África do Sul - embora, a julgar exclusivamente por suas posições no ranking das economias emergentes, outros países estivessem mais bem credenciados para a cooptação. É o caso do México, Coreia do Sul, Turquia e Indonésia.
A preferência pela África do Sul, com o que se agrega a letra S (de South Africa) ao acrônimo Bric, foi uma vitória da China. Não que os demais tivessem objeções a isso ou cultivassem discretamente outras alternativas, e seria de qualquer forma descabido desconsiderar a crescente projeção internacional da mais moderna nação africana. Mas a sua inclusão na entidade, sob o argumento de que seria a mais apropriada representante do continente inteiro, vem a calhar para a acelerada expansão da presença econômica chinesa na região. O fato é, por sinal, que a China está se tornando o centro de gravidade do grupo - um prêmio para o empenho de Pequim em fazer do que não passava originalmente de uma sigla um fórum cercado de atenções como os encontros do G-8 e do G-20.
A hegemonia chinesa se dá a ver na linguagem da Declaração de Sanya, o documento final do evento. Como mostra o jornalista Jamil Anderlini, do Financial Times, o texto está repleto de termos comumente empregados pelas autoridades e pela mídia estatal chinesa e, além disso, numa conversa com jornalistas, um porta-voz do governo chinês disse que o século 21, para os Brics, "deve ser de paz, harmonia, cooperação e desenvolvimento científico" - expressões típicas do jargão do Partido Comunista Chinês. Com isso, nota o jornalista, o regime passa ao público interno a impressão de que "está começando a disseminar sua mensagem no exterior e a exercer influência sobre outros mercados emergentes". Esses estratagemas são corriqueiros. A questão é saber se se fundamentam na realidade.
O Brasil, por exemplo, não perde ocasião de afirmar que ganha corpo junto aos seus interlocutores a sua reivindicação por um assento permanente em um Conselho de Segurança (CS) reformado. Assim foi quando se destacou que, em Brasília, o presidente americano, Barack Obama, manifestou "apreço" pela demanda. O mesmo se repetiu no alarde em torno do comunicado conjunto sino-brasileiro, na visita da presidente Dilma Rousseff a Pequim. Celebrou-se o fato de que a China concordou pela primeira vez em citar expressamente o Conselho de Segurança no contexto de pregação brasileira pela reforma das Nações Unidas. E ontem se saudou como outra vitória a igual menção na Declaração de Sanya. A verdade é que a aspiração brasileira é um problema para a China, porque dá gás aos pleitos similares dos seus rivais Índia e Japão, por sua vez apoiados pelos EUA. E o Brasil não entrará sozinho no CS.
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