11 de dezembro de 2012 | 02h07
Na semana passada, ele interrompeu uma nova internação de 19 dias na ilha - a contragosto dos médicos, confessou - para revelar, em Caracas, que se submeterá a uma quarta cirurgia e pedir apoio ao vice. Na Venezuela, o titular o nomeia e pode substituí-lo. No poder há 14 anos, Chávez se reelegeu em outubro para um quarto mandato que o manteria no Palácio Miraflores até 2019, a contar da posse, em 10 de janeiro próximo. Se ele não tiver condições de assumir, o presidente da Assembleia Nacional o substituirá e nova eleição presidencial terá de ser realizada em 30 dias. Se assumir, mas deixar o cargo nos primeiros quatro anos do seu período, o vice assumirá e convocará novo pleito no mesmo prazo. O cenário, portanto, é de incerteza. Segundo o cientista político Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela, citado pelo Globo, Chávez teria voltado a Caracas também para mobilizar a população em torno dos candidatos do partido oficial, o PSUV, nas eleições estaduais do domingo.
Pode até ser, mas o principal intuito político do bolivariano decerto se relaciona, ao que tudo indica, com a surda competição no interior do chavismo e que há de ter-se acentuado com a deterioração da saúde do líder. Como se sabe, quanto mais autocrático um regime, maior a propensão dos subordinados do número um a se engalfinhar nos bastidores por suas boas graças e consequente ascensão na escadaria do poder. Não só os civis, mas também a cúpula militar e dos serviços de segurança participam dessa luta a cotoveladas. Para Chávez, ainda que não tenha jogado a toalha diante da malignidade que o acomete, pôr ordem na casa era imperativo nas atuais circunstâncias. E nada mais normal do que ungir o seu vice. É provável que ele já tivesse isso em mente ao escolhê-lo para a função, sem tirá-lo do posto de chanceler, que ocupa desde 2006, em vez de chamar de novo o ex, Elías Jaua, um linha-dura que meses atrás chegou a dizer, com outras palavras, que o voto popular só é bom quando promove a continuidade do regime. Ou o presidente do Congresso, Diosdado Cabello, que também ambicionava chegar lá.
Ao que se especula, o octogenário Fidel Castro foi quem aconselhou Chávez a preferir Maduro, de 49 anos. Faz sentido para quem sabe que a estabilidade é preciosa nos regimes de força, tendo ele próprio sido sucedido pelo irmão Raúl. Além disso, o vice parece satisfeito com a linha conciliadora adotada nos últimos meses pelo caudilho - o que não impediu este de vociferar coisas escabrosas sobre o opositor Henrique Capriles na recente campanha eleitoral. Chávez e Maduro são pessoalmente próximos. O ex-condutor de metrô, líder sindical, deputado e presidente da Assembleia Nacional acompanhou o chefe em todas as internações em Cuba. Nos desembarques é o segundo a aparecer na porta do avião. Politicamente, é um bolivariano de mãos enluvadas. Para uma analista, o seu traço mais marcante é a fidelidade. Outros destacam o seu "temperamento de chanceler" e disposição para o diálogo - a antítese de Chávez. A ver como se portará quando a natureza seguir o seu curso e o chavismo precisar de outra liderança carismática para evitar a sua fragmentação e eventual colapso.
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