
05 de março de 2016 | 03h00
“Quem coloca o filho na particular vê esse gasto como prioridade, um investimento. Por isso, tirar o filho da escola é a última alternativa”, afirmou o presidente da Confenen, Roberto Geraldo Dornas. Reportagem do Estado mostrou o caso da família da professora Pérola do Amaral. Após a perda do emprego do marido, ficou insustentável para o casal manter as duas filhas em escola particular. “A gente gastava mais de R$ 1 mil por mês de mensalidade e ainda tinha despesa com material, uniforme, transporte e alimentação. No ano passado fizemos de tudo para mantê-las na escola, mas não deu para segurar”, disse Pérola. O marido voltou a trabalhar em um novo emprego, mas com salário menor, e, por isso, o casal ainda está sem condições de voltar a matricular as filhas numa escola particular.
Segundo a Confenen, a situação poderia ser ainda pior. Suas estimativas indicavam que a crise poderia fazer com que a rede de ensino privada perdesse até 20% dos alunos. No entanto, a entidade tem observado que as escolas particulares estão fazendo um esforço adicional para negociar alternativas com as famílias, em prol da continuidade dos filhos na rede privada. “As escolas sabiam que seria um ano difícil. A inflação está muito alta, houve aumento de luz, água, internet e seria impossível não repassar para as mensalidades”, disse Dornas.
A atual situação evidencia como as políticas públicas afetam toda a sociedade. Seus efeitos são percebidos também por aquelas famílias que, num primeiro momento, não estavam diretamente atreladas a determinados serviços públicos, como saúde e educação. É clara a responsabilidade do governo federal por essa situação, por ter implantado e reiterado uma equivocada política econômica, à revelia de todos os indicadores econômicos.
A migração de alunos para a escola pública em razão de dificuldades financeiras familiares mostra também a necessidade de um novo modelo de administração pública, em que a qualidade da escola pública seja de fato uma prioridade. O atual sistema coloca as famílias em situação de extrema vulnerabilidade. Uma diminuição na renda familiar produz efeitos de longo prazo sobre o futuro das crianças. É patente a injustiça do atual sistema, já que a rede pública de ensino – com raras e honrosas exceções – tem sérias dificuldades de assegurar oportunidades de um futuro digno a seus alunos.
Diante desse quadro, surge a constatação do desperdício de oportunidades ocorrido nos dois mandatos de Lula e no primeiro de Dilma Rousseff – a bonança econômica não foi convertida em desenvolvimento social. Ao contrário do que o discurso petista proclama – os incríveis e inéditos avanços sociais nos tempos de Lula –, a melhoria das condições sociais foi momentânea, inflada por circunstâncias que já não existem mais. Como os dados revelam, os avanços foram frágeis, incapazes de retirar as famílias de uma situação de vulnerabilidade.
A crise econômica chegou às crianças, afetando a formação que se dá às novas gerações. Para um governo sério, tal constatação deveria ser mais que suficiente para uma guinada, enfrentando com responsabilidade as causas da crise. Não é o que se vê até agora no governo da presidente Dilma Rousseff. Parece que os petistas enxergam apenas os efeitos da retração econômica sobre as urnas, cegos para o fato de que políticas públicas equivocadas têm consequências de longo prazo.
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