
04 de janeiro de 2013 | 02h08
Reportagem da Folha de S.Paulo resumiu o atual estado da Biblioteca, que a Unesco considera uma das dez maiores do mundo. Quase todo o edifício padece de má conservação, o que ameaça a coleção de obras raras, algumas do século 11. O ar-condicionado está com defeito, o que obriga os funcionários a trabalhar sob uma temperatura muitas vezes superior a 40 graus, calor que compromete também a manutenção do acervo. Em razão desse defeito, houve três vazamentos de água somente neste ano - num dos casos, mais de 2 mil periódicos foram atingidos. Quando chove muito forte, os livros que ficam no último andar são atingidos. Em laudo de setembro de 2012, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional chamou a atenção para a necessidade urgente de um levantamento rigoroso do estado de conservação das instalações do edifício. Além disso, há um problema estrutural evidente: a capacidade original de armazenamento do prédio é de 400 mil volumes, mas ele abriga hoje cerca de 9 milhões de itens. Todos os anos chegam 100 mil obras novas, entre livros, fotos, jornais, mapas e objetos de valor histórico. O espaço utilizável da Biblioteca Nacional, sob todos os aspectos, foi superado há muito tempo.
Os servidores da instituição fizeram dois protestos em 2012 para denunciar os problemas do edifício e também para acusar a Fundação Biblioteca Nacional, responsável por sua administração, de não prestar informações sobre as providências que tomou para resolvê-los. A Fundação limitou-se a afirmar que "muito tem sido feito" para modernizar o prédio e que já ordenou a contratação de uma empresa para reparar as instalações elétricas e o ar-condicionado. Para justificar a demora na resolução da crise, a Fundação argumentou que as exigências legais acarretam atrasos, uma desculpa muito comum em várias repartições do governo federal para disfarçar sua ineficiência.
Como se não fosse suficiente a degradação da Biblioteca, a Fundação Biblioteca Nacional passou a acumular em 2012 outras funções, como a responsabilidade pelo Plano Nacional do Livro e Leitura, cujo orçamento é de R$ 373 milhões - mais que o dobro do orçamento da própria Fundação. A crítica dos especialistas da área é que a Fundação não tem capacidade para realizar essa tarefa, deixando em segundo plano a Biblioteca Nacional, cuja zeladoria é sua função precípua. Oficialmente, a Fundação diz que todos os projetos que administra já foram ao menos iniciados e que os problemas da sede da Biblioteca não estão relacionados com o aumento de tarefas da instituição. No entanto, como não é possível acompanhar a execução dos projetos, pois o site do Plano Nacional do Livro e Leitura não é atualizado desde 2011, resta somente a constatação de que os programas tocados pela Fundação enfrentam atrasos. Ademais, a própria ministra da Cultura, Marta Suplicy, observou o óbvio - que a Fundação não é a instituição adequada para administrar o Plano Nacional do Livro e Leitura - e pretende rever essa atribuição. São erros desse tipo que denunciam a desorientação burocrática do atual governo, cada vez mais inchado para atender a interesses políticos.
No caso da Biblioteca Nacional, porém, trata-se de mais um entre tantos erros administrativos cujas consequências, de tão maléficas, são difíceis de medir. Por essa razão, o processo de degradação dessa instituição, responsável pela guarda de um acervo tão importante de documentos e que simboliza como poucas a pretensão do Brasil de ocupar um lugar no mundo civilizado, deve ser imediatamente interrompido.
Encontrou algum erro? Entre em contato