28 de janeiro de 2013 | 02h05
Essa retração pode ser atribuída, em parte, à crise na Europa, o principal mercado do produto, e à recuperação ainda fraca das economias dos EUA e do Japão. A queda é efeito também de uma progressiva mudança de hábitos de consumo nesses países. Pesquisas revelam que cada alemão hoje consome 14 litros de suco de laranja por ano, 25% menos do que há oito anos. No Japão, a retração foi de 30% e nos EUA, de 28%. Com isso, há grandes excedentes nos pomares, com muita fruta apodrecendo por falta de compradores. Em muitos casos, os produtores acabam arrendando suas terras para o cultivo de cana-de-açúcar, como relata reportagem do Estado (20/1).
Outro fator que limita os preços são os estoques existentes de suco. Apesar de o governo ter prorrogado o Lote Econômico de Compras para retenção até junho de 2014 para cerca de 311 mil toneladas, os estoques ainda são elevados. O Centro Avançado de Estudos de Economia Aplicada Esalq/USP, estima que o estoque de passagem da temporada fique em torno de 300 mil toneladas em junho de 2013, se as vendas externas e domésticas forem em média de 1,2 milhão de toneladas.
O consumo, porém, pode voltar a crescer, segundo especialistas. Uma campanha tenaz de produtores de bebidas concorrentes tem sido movida contra o suco de laranja, propagando mundo afora que o produto tem calorias demais. A indústria já preparou uma contracampanha para desmentir essa alegação e se prepara para lançá-la no mercado internacional. No mercado interno, algumas medidas já tomadas, como incluir o suco na merenda escolar, ajudam, mas é preciso também incentivar o brasileiro a tomar mais suco integral, em vez do néctar hoje mais comum, em que metade do produto é composto de água e açúcar.
Considera-se também que há necessidade de renovar os pomares, muitos dos quais têm mais de 20 anos e não recebem tratos adequados. Assim, tem sido elevada a incidência de greening, a doença mais grave das que afetam os laranjais em razão da dificuldade de controle e de sua rápida disseminação, com efeitos altamente destrutivos. A solução muitas vezes é a erradicação de pomares, mas isso também tem um custo alto. Para os produtores, é mais fácil arrendar as terras para cultivo de cana, ficando o arrendatário responsável por essa despesa.
Além disso, novas áreas têm sido abertas para o cultivo de laranja, empregando mais tecnologia, o que resulta em maior produtividade e menores custos. Como sustenta um técnico da Citrus-BR, o importante agora é não olhar para trás e encarar o futuro com base em um diálogo que abranja toda a cadeia produtiva. As disputas internas no setor são a dificuldade maior para definir uma linha de ação, afirma. As indústrias defendem o fortalecimento do Consecitrus, órgão inspirado no Consecana, do setor sucroalcooleiro, que pode servir de fórum para discussão dos problemas do setor e pelo menos amenizar os dissídios entre produtores e processadores industriais de laranja.
A ideia vem ganhando cada vez mais aceitação. O presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga, Marco Antonio dos Santos, está organizando para breve uma reunião para convencer os produtores das vantagens do Consecitrus. O órgão, funcionando com absoluta transparência, como se pretende, pode ser "a única saída", como disse Santos, para evitar que o setor fique dependente de benesses do governo, sempre instáveis.
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