
04 de maio de 2012 | 03h05
Os resultados do comércio exterior mais numa vez confirmam o principal defeito da estratégia anticrise adotada pelo governo brasileiro. O Brasil, têm repetido a presidente Dilma Rousseff e seus ministros, enfrentará com sucesso a crise global graças ao potencial de seu mercado interno. O poder de compra desse mercado tem sido alimentado tanto pelo aumento do bolo de rendimentos quanto pela expansão do crédito. Mas a indústria brasileira tem sido incapaz, por vários fatores, de responder ao crescimento da procura. Mesmo a depreciação do real, nos últimos meses, pouco elevou o poder de competição dos produtores nacionais, prejudicado por uma série de custos e de ineficiências made in Brazil. Por isso, o vigor do mercado interno tem criado excelentes oportunidades para a produção estrangeira. Com a retração de outros compradores, os mercados brasileiro e de outros países latino-americanos se tornam especialmente atraentes para chineses e outros competidores.
Além disso, os efeitos da crise global são bem visíveis nas exportações de commodities. Um levantamento de 23 dos principais produtos básicos e semimanufaturados vendidos pelo Brasil mostrou a seguinte evolução: 18 deles têm preços menores que os de um ano antes e 16 têm menor volume de vendas. No conjunto, 16 desses produtos proporcionaram receita menor que a de abril de 2011.
As cotações de vários produtos permanecem até elevadas, pelos padrões históricos, mas o recuo nos últimos 12 meses foi sensível e refletiu tanto a estagnação europeia, agravada no começo deste ano, como a perda de impulso da China e de outras economias emergentes.
O superávit comercial acumulado no ano, de US$ 3,3 bilhões, é 33,7% menor que o de janeiro a abril de 2011, ou 35,3% inferior, se a comparação for feita com base na média por dia útil. Em quatro meses, a receita de exportações, de US$ 74,6 bilhões, foi 2% maior que a dos primeiros quatro meses do ano passado. A despesa com importações, de US$ 71,3 bilhões, ficou 4,8% acima da registrada em igual período de 2011. Atribuir esse descompasso à diferença entre a situação do Brasil, ainda razoável, e a da Europa, em recessão, é contar apenas parte da história. O resultado seria diferente, se a indústria nacional fosse mais capaz de brigar por espaços tanto no exterior como no mercado interno.
Apesar disso, a receita das vendas de manufaturados, de US$ 28,4 bilhões em quatro meses, foi 3,4% superior à de um ano antes, consideradas as médias por dia útil. Na mesma comparação, a receita dos produtos básicos aumentou apenas 2%, enquanto a dos semimanufaturados encolheu 3,3%. Mesmo com enorme dificuldade para competir, a indústria pode comemorar pelo menos esse resultado positivo.
O aumento das vendas de manufaturados é em boa parte explicável pela expansão das exportações para os Estados Unidos, 29,5% maiores que de janeiro a abril do ano passado. A receita das vendas para a China foi apenas 5% superior à de igual período de 2011 - e essas vendas, como sempre, foram constituídas quase exclusivamente de commodities. A maior e mais desenvolvida economia do mundo é um dos melhores mercados para a indústria brasileira. Com o maior dos emergentes, a economia brasileira tem uma relação semicolonial, mas definida como estratégica pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O atual governo parece manter essa avaliação.
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