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A crise do emprego industrial

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Por Redação
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O governo da presidente Dilma Rousseff caminha firmemente para completar quatro anos de estagnação industrial e de destruição de empregos na indústria. Por causa da campanha eleitoral, ministros e altos funcionários estão mobilizados para defender a impropriamente chamada política industrial, uma confusa mistura de benefícios fiscais seletivos e de financiamentos a grupos escolhidos como vencedores nacionais - alguns quebrados pouco tempo depois da escolha. O primeiro obstáculo diante da tropa eleitoral será formado pelos números oficiais. Os dados produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são mais arrasadores que qualquer discurso do mais veemente oposicionista. Em março, segundo o último levantamento, os empregados no setor foram 0,2% mais numerosos que em fevereiro, mas esse aumento ficou longe do necessário para anular as perdas acumuladas nos últimos anos, quando a produção cresceu nos demais emergentes e quase nada avançou no Brasil. Quase todo o quadro é muito ruim. O número de assalariados na indústria, em março, foi 1,9% menor que um ano antes. No primeiro trimestre, 2% inferior ao dos primeiros três meses de 2013. No acumulado de 12 meses houve uma redução de 1,4%. De fevereiro para março no número de horas houve redução de 0,3% nas horas pagas e de 2,1% na folha de pagamento real, isto é, descontada a inflação. As horas pagas diminuíram 2,4% na comparação com março do ano passado e 2,3% no cotejo do primeiro trimestre deste ano com o de 2013. O único dado ainda positivo, nas comparações de prazo mais longo, é a folha de pagamento real. Foi 0,5% maior que a de março do ano passado. No trimestre, a diferença ficou em 2,1%. Em 12 meses, em 1,4%. Essa evolução pode ser intrigante à primeira vista, mas fica mais fácil de entendê-la quando se levam em conta as condições do mercado de trabalho.A oferta de mão de obra qualificada ou meramente qualificável é apertada, como têm indicado pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI). As demissões teriam sido provavelmente maiores, se os dirigentes de empresas tivessem maior segurança quanto à reposição dos quadros em caso de recuperação dos negócios. Também relatórios do Banco Central (BC) têm mencionado as limitações da oferta de mão de obra, embora sem detalhes sobre a formação dos trabalhadores. Nesse quadro aparentemente estranho, a indústria vai mal, o emprego setorial diminui e os custos aumentam, anulando ou reduzindo quaisquer ganhos de produtividade. A redução do emprego industrial tem refletido a estagnação do setor durante todo o mandato da presidente Dilma Rousseff. Em 2011, primeiro ano de governo, a produção geral da indústria cresceu apenas 0,4%, mas o pessoal ocupado ainda aumentou 1%. No ano seguinte a indústria produziu 2,3% menos que em 2011 e o emprego caiu 1,4%. No ano passado, a produção se expandiu 2,3%, mal conseguindo anular a perda do período anterior. Em outras palavras: em 2013 a atividade industrial apenas encostou de novo no nível de dois anos antes, mas o número de empregados encolheu 1,1%. Neste ano o cenário continua ruim. A atividade industrial avançou 2,1% em 12 meses - sobre uma base de estagnação nos anos anteriores - enquanto os empregados diminuíram 1,4%. Batida pelos concorrentes tanto fora do Brasil quanto no mercado interno, a indústria brasileira continua acumulando enorme déficit no comércio exterior. Seu principal mercado, a Argentina, continua em crise e cercado por barreiras protecionistas altas e inadmissíveis numa união aduaneira - status oficial do Mercosul.Nem por isso a presidente Dilma Rousseff e seus auxiliares ficam ruborizados quando alardeiam as vitórias imaginárias de seu arremedo de política industrial, uma reprodução caricatural das políticas de estímulo e de proteção aplicadas entre os anos 1950 e 1970. O único ensaio de inovação, a escolha dos campeões, resultou em enorme desperdício. Os números e a experiência do dia a dia confirmam. Só falta o governo reconhecer esses dados.