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A crise e o maior superávit em dez anos

O fato de o saldo de US$ 3,8 bilhões registrado pela balança comercial em setembro ser o melhor para o mês nos últimos dez anos é decerto auspicioso

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Por Redação
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O fato de o saldo de US$ 3,8 bilhões registrado pela balança comercial em setembro ser o melhor para o mês nos últimos dez anos é decerto auspicioso, mas não esconde os sérios problemas econômicos que vêm gerando resultados mensais positivos. Nos nove primeiros meses do ano, o superávit comercial já soma US$ 36,2 bilhões, valor que justifica as estimativas do governo de que, no ano, o saldo será recorde, entre US$ 45 bilhões e US$ 50 bilhões. No entanto, esses números, que contribuirão para assegurar uma situação bastante confortável para as contas externas do País – favorecidas também pelo volumoso ingresso de investimentos estrangeiros diretos –, decorrem muito mais da crise que o País enfrenta desde meados de 2014 do que da conquista de espaço para produtos brasileiros no mercado externo. Os dados mensais e os resultados acumulados ao longo do ano não deixam dúvidas de que, com a recessão, as empresas importam menos matérias-primas, insumos e equipamentos e os consumidores compram menos artigos importados. É acentuada a queda das importações. De janeiro a setembro, elas somaram US$ 103,2 bilhões, um recuo de 23,9% em relação aos nove primeiros meses de 2015. Em valor, o corte equivaleu a praticamente um quarto. O fato de a queda em setembro, na comparação com os dados de um ano atrás, ter se reduzido para 9,2% pode sinalizar um arrefecimento da crise. Mas, pelos dados da balança comercial, os problemas persistem. As exportações continuam a cair em valor, apesar da recente recuperação dos preços internacionais, mas, como sua queda é menos intensa que a das importações, o saldo comercial é positivo e crescente. No acumulado do ano, os preços médios dos itens exportados registram redução intensa, de 10,5%, razão pela qual, mesmo com o aumento de 4,5% na quantidade embarcada, o total das exportações continua menor do que o do ano passado. Pelo critério de média diária, a redução é 4,6%. É possível que, em futuro próximo, o total exportado passe a superar o do ano anterior, pois o aumento dos preços internacionais nos últimos meses tem sido expressivo. “Houve altas relevantes em setembro em soja, minério de ferro, café em grão e açúcar em bruto”, disse o diretor de estatísticas do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Herlon Brandão. Mas a recuperação das importações está condicionada à superação da crise.