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A crise na América Latina

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Por Redação
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A economia brasileira poderá recuperar-se rapidamente e crescer 3,8% no próximo ano, depois de encolher 0,3% em 2009, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada por 30 dos países mais industrializados do mundo capitalista. A recuperação brasileira poderá ocorrer mesmo com um crescimento ainda próximo de zero nos Estados Unidos, no Japão e na zona do euro, segundo projeções divulgadas na terça-feira. A reação da economia brasileira só ocorrerá, no entanto, se não houver uma piora no cenário global, especialmente nas condições de comércio, advertem os autores do estudo. Preocupação semelhante, mas em tons mais sombrios, marcou as projeções apresentadas em Medellín, na Colômbia, na assembleia anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). As sete maiores economias da América Latina terão em conjunto, até 2013, um desempenho muito inferior ao registrado entre 2003 e 2007, em qualquer das duas hipóteses tomadas como referência. Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela cresceram em média 5,8% ao ano, durante aquele período. Sua evolução nos próximos anos dependerá fortemente da recuperação dos países mais avançados. No melhor cenário, esses países voltarão ao nível anterior à crise no segundo semestre do próximo ano. Se esse ritmo for mantido, a expansão dos sete maiores países latino-americanos ficará, em média, em 1,9% ao ano até 2013. Se a retomada no mundo rico for lenta, e a economia só voltar ao nível pré-crise em 2013, esses países só avançarão em média 0,1% durante cinco anos. As projeções apresentadas pelo BID não tratam de cada país da região individualmente. O pessimismo desse quadro é provavelmente excessivo, mas vale a pena prestar atenção à mensagem essencial: se a recessão no mundo rico se prolongar e for acompanhada de redução nos fluxos de capital, as contas externas, a situação fiscal e o sistema bancário de vários países latino-americanos serão afetados perigosamente. As ações adotadas em cada país para o combate à crise poderão promover o crescimento a curto prazo e, a médio prazo, causar desordem nas contas de governo, com déficit crescente e elevação da dívida pública. Na hipótese mais desfavorável, o endividamento poderá subir de 27% - nível médio registrado em 2008 - para 49% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013. Se o pior cenário se materializar, importantes avanços conseguidos em toda a região, desde os anos 90, poderão ser comprometidos. Nesse período, as contas fiscais melhoraram, a posição externa se fortaleceu e a dívida pública diminuiu como proporção do PIB. Além disso, o endividamento público em dólar diminuiu. A estabilidade permitiu uma melhora das condições de vida de milhões de famílias pobres. A estagnação da economia pode pôr em risco essas conquistas. Segundo informações levantadas em 59 países em desenvolvimento, aumentos substanciais da mortalidade infantil foram observados em períodos de crise, por causa da redução dos gastos públicos em serviços de saúde e saneamento e também pela redução dos ganhos das famílias. Impedir o retrocesso dos indicadores sociais é um dos desafios imediatos dos governos latino-americanos diante da crise, alerta o relatório do BID. Os 49 governadores da instituição recomendaram aos diretores a busca de meios para elevar o capital do banco, hoje equivalente a US$ 101 bilhões. O BID, assim como outras instituições multilaterais, pode ter uma participação muito importante, neste e nos próximos anos, no esforço para atenuar os efeitos da crise global. O FMI já iniciou o socorro a vários países, tanto pobres quanto emergentes, atingidos pela desordem financeira. Essa operação será ampliada com o reforço dos recursos do FMI de US$ 750 bilhões, decidido pelo Grupo dos 20, na reunião de Londres. Por sua vez, Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial - que foi contemplado pelo G-20 com um reforço de US$ 250 bilhões -, propõe a formação de um fundo de US$ 50 bilhões, no mínimo, para financiamento do comércio internacional, fortemente prejudicado não só pela retração econômica, mas também pela escassez de crédito.