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A CUT aos 30 anos

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Por Redação
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Às vésperas de completar 30 anos, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior do País e, segundo proclama, a 5.ª do mundo, é criticada pelo seu dirigente histórico Jair Meneguelli por ter arriado as suas bandeiras, condicionando a sua atuação aos interesses dos governos petistas. Ele toma assim, ao pé da letra, a ata de fundação da entidade, onde consta que ela não terá "caráter partidário". Primeiro presidente da organização, tendo sucedido a Luiz Inácio Lula da Silva no comando do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e petista da velha-guarda, Meneguelli há de saber que o apartidarismo citado da certidão de nascimento da central era pro forma, um artifício para fingir obediência à lei que veda a vinculação assumida de órgãos de representação de interesses a agremiações políticas, além de estratagema para vincular sindicatos alinhados a outras vertentes da esquerda.Nascida três anos depois do PT, a CUT e a sua célula-mãe eram praticamente indistinguíveis ao longo dos 18 anos entre o fim do regime militar e a posse de Lula na Presidência da República. Especialmente no período Fernando Henrique, agiam com perfeita coordenação para mover contra o seu governo uma oposição marcada por estrepitosa ferocidade. O vitríolo que o PT despejava das tribunas parlamentares, à época das privatizações - quando Meneguelli era deputado federal -, tinha o seu equivalente nas frequentes paralisações e protestos quase ininterruptos a que se entregava o funcionalismo federal, cujas associações eram filiadas da CUT. A identidade de propósitos entre partido e central sindical superava quaisquer divergências que houvesse entre as respectivas lideranças sobre os meios mais eficazes de infernizar a vida do "sistema neoliberal".Com Lula no Planalto - e o aparelhamento do Estado a todo vapor, traçando uma linha de continuidade entre administração pública, partido e poder sindical -, tornou-se impensável a CUT seguir rumos próprios, deixando de ser a correia de transmissão em que se convertera, entre o governo e "a classe trabalhadora", como costuma falar o primeiro-companheiro. Meneguelli diz agora que a central "perdeu o maior momento de sua história" sob Lula e não o achou sob Dilma. Segundo o seu raciocínio, a CUT deveria ter aproveitado "a amizade do presidente" para "liderar uma verdadeira revolução no movimento sindical brasileiro", colocando na ordem do dia as suas antigas palavras de ordem, como o fim da chamada contribuição sindical. Não o fez porque essa bandeira desbotou com os robustos ganhos de empregos e renda obtidos pelos assalariados na gestão lulista - e porque seria cortar na própria carne.A CUT calou os últimos vestígios que porventura ainda abrigasse das lutas pela autonomia sindical diante do Estado quando, em 2008, Lula assinou lei autorizando o repasse às centrais de parcela do equivalente a um dia de trabalho cobrado compulsoriamente de todos os empregados, sindicalizados ou não - a base material do peleguismo da era Vargas. Desde então, até o ano passado, a CUT recebeu a esse título mais de R$ 270 milhões. A bolada, de dar inveja às congêneres, cobre 65% de seus gastos anuais. (A entidade diz ter 3.438 filiados, entre sindicatos e confederações, representando mais de 22 milhões de trabalhadores.) Tem para todos. A cada mês, contabiliza Meneguelli, o Ministério do Trabalho recebe cerca de 80 pedidos de registro de novos sindicatos. "Está virando uma profissão, e das boas, ser dirigente sindical no Brasil", constata. Meneguelli preside atualmente o Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria, o Sesi.A popularidade das organizações sindicais parece inversamente proporcional aos recursos graças aos quais prosperam e se perpetuam as suas elites. A evidência mais eloquente desse desengate foi a manifestação promovida mês passado por nove entidades para pegar carona nas passeatas de junho. A profusão de carros de som e material de propaganda contrastou com o vazio do evento - mesmo contando os "manifestantes" contratados, não havia ali nem 10 mil pessoas.